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O setor de balas e acordos bilaterais

Por Solange Isidoro
Atualização:

A falta de competitividade do Brasil em vários segmentos não é novidade, mas impressiona a extensão do problema, que agora contamina mais um setor: o de balas. Os números de exportação de 2013 não deixam dúvidas. A indústria de balas fechou o primeiro semestre com queda de 10,4% nas exportações do produto, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Foi a maior retração no comércio com países estrangeiros nos últimos cinco anos.Contribuíram para reduzir a exportação: a competitividade de países como Colômbia, México e Turquia, que contam com importantes acordos comerciais; os conflitos no Oriente Médio; e a alta do dólar nos países compradores, que dificultou a inserção dos produtos brasileiros no mercado externo. Uma solução para incrementar os resultados de exportação são os acordos bilaterais, pois reduzem os impostos de entrada em diversos mercados.O papel do governo na conquista de bons acordos é fundamental e, por ora, deixa a desejar. Há alguns anos o governo sul-africano subiu o imposto sobre produtos estrangeiros de 25% para 37%. Até hoje a carga tributária excessiva naquele país não foi revista. O Sistema Geral de Preferência (SGP) dos Estados Unidos, que facilita a entrada de determinados produtos de países em desenvolvimento, ainda não foi renovado pelo Congresso americano. Cabe a pergunta: será que o governo brasileiro está fazendo algo a respeito?Os Estados Unidos são o segundo principal destino de exportação do setor e o primeiro destino das exportações de candies, sendo, portanto, de extrema relevância. Já a África do Sul atualmente é o 10.º destino de exportações brasileiras de candies (participação de 2,1% no total). Em 2012, também ocupava a 10.ª posição; em 2011, a 9.ª. Em 2005, era o segundo principal mercado do segmento, responsável por 17,8% do valor exportado.Sem o SGP americano, o preço das balas e de outros produtos brasileiros sofre um aumento de aproximadamente 6% naquele mercado. Essa "gordura" deverá ser absorvida pelo exportador ou compartilhada com o importador, reduzindo automaticamente as margens de lucro de ambos. Ou, ainda, pode inviabilizar a venda, uma vez que esse porcentual é considerado alto no segmento de balas.O Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, é outro ponto de atenção. O bloco peca pela falta de agilidade e consenso. Há uma luz no fim do túnel, porém. O relacionamento comercial entre Brasil e Argentina, travado há dois anos, recentemente deu sinais de que poderá ser retomado em novas bases, tendo em vista o movimento de flexibilização econômica empreendido pela presidente Cristina Kirchner. A governante se mostra disposta a repensar as Declarações Juramentadas Antecipadas de Importação (Djai), que desde 2012 obrigam importadoras a obterem intermináveis licenças para adquirir produtos do país vizinho. Provavelmente o recurso não será extinto, mas "suavizado", desburocratizando os trâmites com aquele país.O governo argentino também acenou com a possibilidade de eliminar o esquema de "um a um" no comércio exterior, pelo qual uma empresa se via obrigada a exportar o mesmo valor da importação realizada, criando bizarrices como empresas de autopeças vendendo alimentos para "fechar as contas" de acordo com a regra.Se a Argentina de fato realizar essas mudanças, o Brasil poderá reconsiderar o Mercosul como um caminho efetivo e seguro para o comércio com a União Europeia. Do contrário, restará a solução já conhecida de todos, mas sempre evitada. As tratativas com países estratégicos deverão ser feitas isoladamente pelo Brasil e com o eficiente apoio do governo, responsável por abrir as "portas" no cenário internacional. É o que o setor de balas e muitos outros aguardam para recuperar o tempo perdido e trilhar o caminho do crescimento novamente.*Solange Isidoro é vice-presidente do setor de exportação da ABICAB.

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