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O soluço da Apple

Para uma empresa que se habituou a redefinir por completo como entendemos tecnologia, tem muito pouca novidade esse ano

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Lançamentos da Apple são importantes. Nenhuma outra empresa que produz traquitanas tecnológicas atrai tantos jornalistas. Faz mais de uma década que consegue dominar as capas de todos os sites de notícias do mundo. Faz isso uma ou duas vezes por ano. Nem concorrentes de peso, como o Google, conseguem o mesmo. O fenômeno se repete nas redes sociais. As pessoas distribuem as novidades inventadas em Cupertino, debatem, reclamam, se maravilham. Todo setembro, quando o novo modelo de iPhone é anunciado, o assunto é dominante. Em nenhum dia do ano deve se falar mais sobre celulares.

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É por isso que lançamentos da Apple são importantes. Porque como as características de cada novo iPhone são discutidas e digeridas, é inevitável que seja também a oportunidade do público compreender o que há de novo. Isto põe a Apple num lugar privilegiado. Ela pode ditar tendências.

Hoje, não conseguimos imaginar um celular que não bata fotos, tenha GPS com mapa ou toque música. Mas nenhuma destas características veio do nada. Todos os anos, empresas lançam produtos novos com determinadas possibilidades. Algumas caem no gosto dos usuários, outras não. E muito do que esperamos de um celular, hoje, foi definido pelo escritório de design, uma imensa sala com muito branco e muito vidro, no interior da Apple.

São duas as características que o iPhone 7 traz e podem ditar tendências futuras. Uma é a ausência do plug para fones de ouvido. A outra é, no modelo 7 Plus, a presença de duas câmeras.

A Apple não é a primeira com aparelhos assim. Mas ninguém reparou quando HTC, LG e a chinesa Huawei lançaram seus modelos com duas câmeras. O G5, topo de linha da LG que tem duas, está em terceiro no ranking do site especializado DXOMark em qualidade de fotos. (Dividem a primeira colocação o S7 Edge da Samsung, o HTC 10 e o Sony Xperia X Performance.) Pelo menos nove aparelhos têm câmeras superiores ao iPhone 6S Plus, de 2015. O 7 Plus ainda não foi avaliado.

Duas câmeras permitem profundidade de plano – a arte de tirar o foco do fundo –, melhor zoom, menos distorção nos extremos da lente.

A decisão da Motorola de tirar o plug de fones de seu Moto Z foi bastante comentada, mas ainda assim nos círculos fechados dos fissurados por celular. Quando a Apple a acompanha, a decisão é reforçada. Um celular é um aparelho muito pequeno e há um limite físico para a quantidade de características que ele pode ter. No caso do iPhone 7, ao tirar o espaço do plug aumentou-se a caixa de som, melhorando a reprodução de música sem fones.

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Só o consumidor poderá dizer se a troca vale. O resultado é que os fones de ouvido para iPhones ficarão mais caros. Será preciso modelos específicos que entrem na porta de energia, que é proprietária. Os fones bluetooth da empresa custarão, no Brasil, na casa das várias centenas de reais. E, embora o ideal sejam mesmo fones sem fio, a verdade é que eles não funcionam muito bem. Quando o celular está no bolso da calça ou de um paletó mais espesso, a música sai entrecortada. A ver se os engenheiros da empresa conseguiram mesmo resolver este problema.

O iPhone 4 foi radicalmente diferente dos dois modelos anteriores, da primeira geração. O 5, idem. Assim como o 6. O iPhone 7 mantém o mesmo formato. Com suas curvas e o corpo em vidro, o iPhone 4 foi surpreendente, radicalmente distinto de qualquer coisa que havia. O 6 parecia com um celular Android. E, dois anos após seu lançamento, muito pouco mudou. A verdade é que, para uma empresa que se habituou a redefinir por completo como entendemos tecnologia, tem muito pouca novidade esse ano.

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