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'O time tem de ver transparência no líder'

Na organização francesa onde trabalha, ela é conhecida como 'mãe da América Latina', região pela qual é responsável na multinacional

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Em uma conversa com Valéria Godoy, é fácil descobrir uma pessoa determinada, esforçada e focada. Seu empenho e tenacidade fazem com que, vez por outra, a atual diretora-geral para a América Latina da empresa francesa de softwares Dassault seja chamada de trator. Ela até admite que é um pouco 'sargentão', mas a disciplina contrasta com seu perfil bem-humorado, falante e de "mãe da América Latina", como é chamada por seus pares na matriz da companhia, tal a defesa que faz de sua equipe. Aos 47 anos, com dois filhos, e depois de já ter passado por companhias como Unysis, Recall e BMC Softwares, ela agora comanda 110 pessoas no continente para a organização francesa, que mudou sua sede da região de Buenos Aires para São Paulo e passou a mirar mais o mercado brasileiro. A seguir, trechos da entrevista. Você fez sua carreira na área de softwares?Sim, eu estou no mercado já há uns 15 anos. Antes, havia dado uma parada para ter meus filhos e depois eu retornei, sempre trabalhando na área de tecnologia voltada para a venda de software e de serviços. Nunca trabalhei na área de hardware. A primeira grande empresa em que entrei foi na Unisys - a minha grande escola para realmente entender venda consultiva. Depois, trabalhei em uma outra multinacional, a australiana Recall, e em seguida fui para a BMC Software, onde entrei para atuar com vendas por canais, distribuição por meio de canais. Eu comecei minha carreira como gerente, como client executive, ou seja, tendo um rol de contas para atender. Depois, eu fui subindo de cargo. E tive uma carreira meteórica: de 2000 a 2005 eu saí de gerente de contas para ser diretora da BMC. Passei por gerente regional, depois nacional, e depois, em 2005, assumi a diretoria da BMC Software.Você disse que nunca precisou procurar emprego, pois era convidada, e que teve uma carreira meteórica. Ao que você atribui?A muita dedicação. Trabalhar não é fácil. Em vendas, então, menos ainda, porque todo dia você tem de levantar e enfrentar um desafio novo. O vice-presidente da BMC, que me contratou, ainda na entrevista de emprego me perguntou como eu via a área de vendas. Eu disse que todo dia era um novo dia, tem de levantar hoje e dizer 'eu perdi ontem, mas eu vou ganhar hoje'. Tem de ter esse espírito de renovação. E eu gosto do que faço. Eu gosto de relacionamentos, sou uma pessoa muito falante, sou muito didática para explicar, tenho um poder de convencimento muito grande e sempre tive espírito de liderança. Meu pai até dizia que era difícil de lidar comigo. Imagina, eu sou filha de militar. Mas eu gosto muito do que faço. Eu sempre digo para meus filhos que podem ter qualquer profissão, porque, quando você gosta, faz com dedicação, sente prazer, o negócio dá certo. Eu tenho paixão pelo que eu faço, por mais que existam aqueles dias em que penso 'vou embora e não volto nunca mais'. Mas quando você gosta e acertou na mira aquilo que planejou, fica mais fácil. E eu planejei minha carreira, porque, quando eu entrei na área de TI e vi um horizonte, pensei que havia uma coisa boa ali para mim.Como você se planejou?Eu tenho uns aconselhadores de carreira. E fiz um estudo para saber onde eu precisava me especializar e onde eu queria chegar. Então, quando eu comecei a ver uma oportunidade de crescimento, procurei muito especializar o meu inglês, já que eu queria trabalhar em multinacional. Agora, tenho de fazer francês por causa da empresa onde trabalho, já falo espanhol. E eu nunca tive preguiça de estudar, nunca tive preguiça de ler um livro, de sentar num banco de faculdade. Sou formada em marketing, eu fiz um curso de marketing aos 33 anos, voltei para o banco escolar. Eu me preparei bastante na minha carreira acadêmica para suportar o que eu faço hoje. Eu tirei um ano sabático, porque fiz um MBA na FIA na qual era mandatório fazer especialização fora do País. Eu, então, fiz uma especialização na Universidade de Lyon, outra em Cambridge e outra na China. Em Cambridge e Lyon, eram mais aulas na faculdade mesmo. Na China, foi trabalho em campo, visitando empresas, sabendo como é a cultura, como gerenciam todo tipo de pessoas. É muito importante isso, saber como exercer o gerenciamento de pessoas, Eu lido muito com isso.De que maneira?Porque você vende a empresa para o cliente, mas você também tem de vender internamente, convencer as pessoas que elas tem de vir atrás de você. Líder tem de ser admirado, seu funcionário tem de olhar para você e dizer 'um dia eu quero ser assim'. De vez em quando, você não pode errar, mas ao mesmo tempo eu tenho um jeito de conversar com a minha turma que ela consegue ver em mim a dedicação que eu tenho.Você é uma pessoa rígida?Não sou rígida, sou muito clara, muito transparente. Quem trabalha comigo sabe o dia em que eu não estou bem, quando eu estou triste, porque eu sou um ser humano. Mas eu sou determinada, eu ponho um objetivo e vou atrás. O pessoal confunde muito meu jeito de falar, de gesticular, e acha que, por isso, sou uma pessoa rígida. Eu tenho uma educação militar, sou filha de militar, isso é fato. Agora, a determinação que eu tenho para fazer as coisas na minha vida e ir para frente é grande. O pessoal até diz: 'essa mulher é um trator'. Mas por outro lado, todo mundo brinca comigo, até lá fora, no headquarter.Como?Lá eu tenho um apelido muito bom: eu sou a mãe da América Latina. Eles dizem, 'essa mulher põe os filhos debaixo do braço, ela briga com os outros por causa deles, não deixa ninguém bater no time dela'. Pois é, eu sou muito parceira da minha turma, e ela sabe que eu não a deixo para trás. Quando você está liderando um time, ele tem de ver transparência em você, tem de confiar. E como nem tudo dá certo sempre, então, digo 'senta e conta logo, olho no olho, a porcaria para ver como a gente conserta'. É uma questão prática. Eu tenho esse jeito de ser, sargentão, mas eu brinco muito, eu tenho bom humor, estou sempre dando risada. Às vezes, estou mais séria, ou em um momento de concentração, porque e eu tenho de pensar coisas urgentes.

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