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Obama e sua tensa equipe econômica

Por Jackie Calmes
Atualização:

Um dia desses, no meio de uma sessão diária de informações sobre economia, o presidente Barack Obama deixou-se distrair por uma mosca. Tentou afastá-la com a mão, mas não conseguiu, enquanto ela voava perto dos sapatos de Lawrence H. Summers, o principal assessor econômico da Casa Branca. "O sr. não poderia mirar um pouco mais para cima?", observou impassível Christina D. Romer, presidente do Conselho de Assessores Econômicos. Estava apenas brincando, explicou ela em uma entrevista, acrescentando: "Algumas raras vezes tenho vontade de bater no Larry (Summers)." Entretanto, poucos riram na presença do presidente. Embora o incidente do Salão Oval tenha ocorrido em um momento descontraído, como ela alegou, não deixou de revelar as tensões ocultas que os assessores econômicos de Obama sofrem na luta contra a mais grave crise financeira desde a Depressão, segundo dezenas de funcionários do governo entrevistados e de outras pessoas a par dos debates internos. Segundo todos eles, grande parte das tensões é por causa do fato de o presidente ter escolhido o brilhante, porém, por vezes arrogante Summers para dirigir o Conselho Nacional de Economia, o que o torna o empresário da política da equipe. O pressuposto geral, de Washington a Wall Street, era que sua função seria uma espécie de escala para Summers, até o presidente nomeá-lo "chairman" do Federal Reserve (Fed, banco central americano), quando o mandato de Ben Bernanke expirar, no início de 2010. Mas a agressiva resposta de Bernanke à crise contribuiu de tal forma para melhorar sua reputação, que pessoas próximas de Obama têm insistido em sugerir que o presidente poderá mantê-lo no posto em nome da estabilidade financeira - assim como os presidentes Ronald Reagan e Bill Clinton mantiveram no cargo os diretores do Fed nomeados por seus predecessores do outro partido. Embora os próprios funcionários do alto escalão admitam divergências ocasionais entre os assessores econômicos, eles afirmam que o presidente está animado com a atuação de Summers em sua função atual. Quando Obama nomeou a equipe econômica, em novembro do ano passado, até mesmo alguns dos integrantes de seu círculo questionaram se Summers, considerando sua personalidade difícil, poderia exercer uma intermediação honesta das ideias de outros assessores, como se supõe que sejam os diretores do Conselho Nacional de Economia. Quando fazia parte do governo de Clinton, Summers também deixou claro que queria novamente o cargo de secretário do Tesouro. Apesar das eventuais dificuldades do processo, os funcionários afirmam que Summers e seus colegas têm conseguido superar suas divergências. Em seis meses, eles produziram uma série de planos de ajuda econômica que poderiam ser assustadores se se estendessem por seis anos. Graças a estes, e com as iniciativas do Fed, a economia começa a dar sinais de uma nova vida. No meio tempo, Summers travou debates enérgicos com o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, sobre o que fazer com os bancos em dificuldades. Também entrou em conflito sobre questões da política fiscal e da saúde. Segundo funcionários, seu estilo de argumentação atrasou algumas medidas, como a reforma do programa de resgate dos bancos feito pelo Tesouro, herdado do governo Bush. As divergências são naturais, afirmam os funcionários da Casa Branca.Os problemas são enormes, assim como as personalidades, conforme o desejo de Obama. Ele disse que queria assessores que fossem não apenas integrantes de sua equipe, mas também rivais, com uma grande experiência, capacidade intelectual e em condições de analisar todos os lados de uma questão para ajudá-lo a tomar suas decisões. "Não se consegue reunir um grupo de pessoas realmente brilhantes e tratar alguns dos problemas mais complexos do nosso tempo sem esbarrar em dissensões", disse David Axelrod, principal estrategista político de Obama. O presidente "convida ao debate, mas não tolera o sectarismo. E, em última análise, todos os integrantes da equipe econômica sabem que, no fim do dia, terão de apertar as mãos e pular juntos", acrescentou Axelrod. *Jackie Calmes é correspondente nacional do ?NYT?

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