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Obama faz exigências para voltar a Doha

EUA querem que Brasil, China e Índia ampliem oferta de abertura

Por Jamil Chade
Atualização:

O governo de Barack Obama deixa claro: só aceitará um novo acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC) se Brasil, China e Índia abrirem seus mercados além do que vêm defendendo até agora. Além disso, quer uma mudança radical nas regras do jogo da Rodada Doha. O Itamaraty alertou que não está disposto a aceitar as ideias de Obama. Seu projeto ainda foi duramente atacado por praticamente todos os governos ontem, em uma estreia dura para o novo presidente nas negociações comerciais. O novo representante da Casa Branca para o Comércio, Ron Kirk, iniciou sua primeira série de reuniões com governos de todo o mundo. "Uma das definições de insanidade é continuar (a negociação) em um formato que não sai do impasse", disse a embaixadores, sobre a Rodada Doha que já dura oito anos, sem resultados. Kirk admite que existe pouco entusiasmo do setor privado americano em relação à Rodada. Mas garantiu que Obama está comprometido com o projeto e quer levar também para a área comercial o discurso de tentar aproximar posições, superar problemas passados e reiniciar debates que estavam contaminados. O novo governo, no entanto, desembarcou em Genebra com uma mensagem que deixou várias diplomacias preocupadas: Washington não fará novas concessões enquanto não houver maior acesso para seus bens nos mercados emergentes; pretende mudar a forma de negociação; e ainda quer, primeiro, ouvir o que vai receber. Pela ideia dos americanos, seria necessário pelo menos mais um ano e meio de negociações. Em reunião com Brasil e outros países latino-americanos, Kirk disse que na atual proposta, os países emergentes sabem o que vão obter dos EUA. Já Washington afirma que não sabe como se beneficiaria. O embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo, rejeitou o argumento, lembrando que também está difícil saber o que os americanos farão no corte de subsídios agrícolas. A Rodada Doha, lançada em 2001, quase foi concluída no ano passado. Mas uma falta de acordo envolvendo principalmente os EUA fez o processo fracassar. O Brasil estava disposto a aceitar o acordo, principalmente depois de ter negociado um acesso para seus produtos no mercado europeu e de ter conseguido certo compromisso americano no corte de subsídios. Mas, assim como ocorreu no governo de George W. Bush, Kirk disse que a abertura dos mercados emergentes será uma condição para que haja um acordo. Hoje, a proposta prevê um corte nas tarifas brasileiras de mais de 55%, considerado alto por vários setores. Com Índia e China, o objetivo é também garantir acesso a suas exportações agrícolas. A lista de Kirk ainda inclui os mercados da África do Sul e Indonésia. Mas o governo americano vem conversando também sobre a possibilidade de mudanças nas regras do jogo. Ontem, Kirk não falou explicitamente no assunto. Apenas disse que estava na hora de a OMC ser "criativa" na busca por um acordo.

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