EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Obama no Vale do Silício

Desde Kennedy não havia, na Casa Branca, um inquilino tão fascinado por tecnologia

PUBLICIDADE

Por
Atualização:

Quando deixar a Casa Branca, em janeiro do ano que vem, Barack Obama terá 55 anos. É a idade que tinha Bill Clinton ao sair da presidência, um ano menos do que Jimmy Carter. (Os republicanos têm chegado mais velhos ao cargo). Clinton e Carter permaneceram na política, embora concentrados mais ou menos em iniciativas de diplomacia internacional. Seus pares republicanos em geral vêm tendo atuações mais discretas. George W. Bush, por exemplo, tornou-se pintor em casa e faz discretos trabalhos de filantropia. Não há regra que determine quais atividades um jovem ex-presidente americano pode abraçar. Mas a primeira sugestão dada por Obama surpreende. Ele cogita virar investidor em empresas de tecnologia. O termo em inglês é venture capitalist. Ou, como dizem no Vale do Silício, VC.

PUBLICIDADE

Quando perguntado por repórteres da Bloomberg Businessweek sobre seu destino, o presidente americano foi vago. “O que posso dizer é que as conversas que tenho no Vale com investidores permitem o encontro de meus interesses tanto por ciência quanto por organizações de uma forma que muito me satisfaz.” Daí começou a elaborar a respeito de medicina de precisão, a tendência de produzirmos remédios específicos para cada indivíduo através de seu código genético.

Entre as inovações que Obama trouxe para a Casa Branca estão uma feira de ciências e um Demo Day, ambos anuais. A feira de ciências reúne os melhores projetos de crianças e adolescentes de todo o país. O Demo Day é um dia dedicado a empreendedores com projetos de tecnologia que querem demonstrar. Demo Days servem para que investidores sintam um cheiro do que há de novo.

Desde John Kennedy não havia, na Casa Branca, um inquilino tão fascinado por ciência e tecnologia.

Ainda assim, optar por uma carreira como VC, a se confirmar, surpreende. A lógica econômica do Vale se sustenta por um tripé. A Universidade de Stanford atrai talentos de todo o mundo. A especialidade de seu MBA é a gestão de startups. A escola de design abraça uma técnica para o desenvolvimento de produtos inovadores. A engenharia de software está entre as melhores do mundo. O câmpus termina em uma avenida chamada Sand Hill Road, com várias casas e prédios baixos onde ficam as empresas de investimento. Lá trabalham homens e mulheres que se especializam em ouvir ideias esquisitas e sentir o pulso do que o publico desejará. É a carreira que atrai Obama. O terceiro pé são as empresas formadas no encontro de empreendedores com investidores.

Publicidade

Não é um negócio para fracos. Segundo um estudo da Harvard Business School, que avaliou startups entre 2004 e 2010, até 40% fecham dando perda total do investido. E 95% delas não são capazes de oferecer os níveis de retorno prometidos. No ambiente de negócios do Vale, a experiência com o fracasso é valorizada e quebrar é sinal de que se ousou. Além do quê, sucessos podem ser um Google, uma Apple. O retorno é imenso e compensa as perdas.

O que vale é chegar primeiro. Quem encontra uma ideia matadora antes dos outros e investe pouco por um porcentual razoável é quem ganha maior retorno. Obama teria uma imensa vantagem: muitos gostariam de lhe apresentar primeiro suas ideias. O passo seguinte, e igualmente difícil, é a capacidade de avaliar que tecnologias têm chance de ser lucrativas. Decidir em quem investir. Mas uma coisa dá para dizer sobre a escolha: é uma carreira com a cara do século 21.

Opinião por undefined
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.