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Obama quer um Fed como o nosso BC

Por Alberto Tamer e E-mail: at@attglobal.net
Atualização:

Saiu o plano de Obama para reformar o sistema financeiro americano. E ele segue o modelo do Brasil. Veio em tempo recorde, em menos de seis meses. Na essência, ele dá ao Fed, banco central americano, maior poder para fiscalizar os bancos e organismos de crédito, muitos dos quais, principalmente no setor imobiliário, agiam sem maior vigilância. O Congresso americano não reagiu bem até agora. Não aceita a ideia do que passou a chamar de "Super-Fed". Mas a verdade não é nada disso. O que o plano pretende é dar ao banco central americano os instrumentos necessários para cumprir sua missão de acompanhar as operações no mercado americano; ele quer vigilância e fiscalização unificada, não mais restrita apenas aos bancos, mas a todos os organismos financeiros. É exatamente o que faz o Banco Central no Brasil. Nos Estados Unidos, o Fed fiscaliza os bancos centrais enquanto o Tesouro vigia os bancos de investimento, divisão de poder infeliz e falha que pode ser apontada como uma das causas básicas da crise atual. E isso porque, além dos dois tipos de bancos, há ainda nos EUA uma miríade de organismos de crédito, principalmente no setor imobiliário, que agem sem maior controle. IMITARAM O BRASIL Pode-se dizer que no fundo o plano de Obama segue (quase ia dizendo copia...) o modelo brasileiro, que deu certo, muito certo. Foi graças a ele que o Brasil não teve o que se poderia chamar de crise financeira. Quando a turbulência financeira externa chegou, não foram precisos 8 meses nem "testes de estresse" para saber o que estava acontecendo. A radiografia completa estava lá nos computadores do BC, assim como agir para sanar algumas fragilidades. O governo agiu rápido e nada mais grave aconteceu. É isso o que Obama pretende. Demorou 17 meses por causa da falta de ação do governo Bush, mas chega em tempo. CUIDADO! VAMOS SOFRER! No Brasil, uma espécie de "gripe suína do bom senso e lucidez" parece ter contaminado uma boa parte dos analistas. Para eles, vamos ser afetados pela queda da liquidez no mercado internacional provocada pela maior rigidez no sistema financeiro americano. Em outras palavras: as instituições terão de se ajustar às novas regras de vigilância, terão de se expor menos na intermediação de capitais e, em consequência, deve haver redução de investimentos externos no Brasil. Portanto, vamos ficar atentos! Os críticos não levam em conta os enormes benefícios que virão do saneamento do sistema financeiro, sem o qual não se poderá superar a recessão. Usando uma figurativa, afirmar que o pacote americano vai nos prejudicar é como dizer que tomar penicilina para curar uma grave infecção vai provocar coceira... A gente não coça, mas morre... VAI HAVER MENOS DINHEIRO? Sim, por causa das novas regras que vierem a ser aprovadas pelo Congresso americano, vai haver menos disponibilidade de recursos no mercado internacional. O mecanismo é simples: 1 - O plano obriga a uma alavancagem menor. Traduzindo: para cada dólar de capital próprio, os bancos poderão emprestar menos do que emprestaram nos últimos anos. Seu funcionamento será mais parecido com o dos bancos brasileiros, que resistiram bem à crise. Isso limitará, portanto, o crescimento da liquidez nos Estados Unidos e no mercado internacional e pode nos afetar. 2 - Os bancos e outros organismos de crédito e investimento serão forçados a ser mais cuidadosos na escolha de suas operações, porque a vigilância será maior. Se tudo funcionar direito, os bancos perderão também a cumplicidade das agências de rating, que olhavam para outro lado e não davam o alerta quando havia perigo. MAS E NÓS? VAMOS SOFRER Pode-se dizer, então, que vamos receber menos investimentos externos? Não, necessariamente. Aqui, a falha em que incorrem os que têm medo do plano. O fluxo de financiamentos para o Brasil até poderá ser afetado, pelo menos em curto prazo, pela combinação desses dois fatores. Digo, "poderá", ou seja, é uma possibilidade que não precisa forçosamente ocorrer. Por causa da sua resistência à crise e da rara estabilidade econômica, o Brasil continua sendo uma das melhores opções para os investidores internacionais. Os números do BC confirmam isso. O bom desempenho econômico em meio à recessão mundial pode compensar os efeitos negativos do pacote; provavelmente seremos um dos últimos a serem atingidos pela queda da liquidez externa. Mas vamos admitir o pior. Vamos admitir que os investimentos recuem por alguns meses, mesmo assim, um mal menor que podemos enfrentar. Estamos bem. E o pacote de Obama que pode trazer estabilidade para o mercado financeiro internacional só vai nos ajudar. A nós e a economia mundial. Para o bem de todos, falta esperar que o Congresso não o desvirtue muito.

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