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Odebrecht recorre a prazo de carência e não paga dívida de R$ 500 mi

Débito vencia nesta quarta-feira, mas companhia anunciou que usará parte dos 30 dias que teria de carência para concluir negociações de um novo empréstimo com bancos de até R$ 2,5 bi; valor seria usado para pagar a dívida e honrar outros compromissos da holding

Foto do author Renata Agostini
Por Renata Agostini e Renée Pereira
Atualização:

A Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) anunciou nesta terça-feira, 24, que não pagará no prazo a dívida de R$ 500 milhões que vence hoje com credores internacionais. A empresa afirmou, em nota, que vai usar parte dos 30 dias de carência a que teria direito antes de ser considerada inadimplente para concluir negociações de novo empréstimo com bancos, de até R$ 2,5 bilhões. O valor seria usado para pagar a dívida e honrar outros compromissos do grupo Odebrecht – que enfrenta grave crise desde que foi envolvido na Lava Jato.

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Se não conseguir chegar a um acordo dentro do período de carência, a empresa entrará oficialmente em processo de default (calote). Na prática, isso permitiria que outros credores solicitassem a antecipação do pagamento da dívida e a Odebrecht não teria como pagar a todos – a empreiteira deve quase R$ 11 bilhões na praça. Segundo fontes, isso a levaria a buscar uma recuperação extrajudicial (e não judicial, como vem sendo aventado pelo mercado) para não quebrar. 

Odebrecht não vai pagar os R$ 500 milhões que vencem amanhã Foto: JF DIORIO/ESTADÃO

Há interpretações, no entanto, que apontam que essa antecipação já poderia ocorrer agora, uma vez que o contrato não prevê período de cura (os 30 dias de carência). Uma fonte ligada à Odebrecht diz que, por causa dessa incerteza, ao não honrar o pagamento de hoje, a empreiteira assumiu grande risco. A Odebrecht conta com a dificuldade dos detentores dessa dívida de se articularem rapidamente – os títulos estão nas mãos de diversos investidores estrangeiros.

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A aposta da empreiteira é fechar o acordo com os bancos nos próximos dias. Dos cerca de R$ 2,5 bilhões, R$ 500 milhões seriam usados para pagar a dívida vencida hoje, outros cerca de R$ 500 milhões para reforçar o caixa da empreiteira e o restante ficará com a holding, que tem débitos em atraso e outros a vencer até o fim do ano. As negociações estão em andamento desde o início de 2018, mas emperraram por causa das garantias.

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Itaú e Bradesco, que já são credores da Odebrecht, aceitam liberar novos empréstimos, desde que tenham prioridade nas garantias – ou seja, receberiam primeiro no caso de um default da empresa. Do outro lado, no entanto, estão instituições, como Banco do Brasil, Caixa e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que não querem abrir mão desse benefício. 

Até a noite desta terça-feira, 24,, as negociações tinham avançado. Fontes envolvidas nas discussões afirmaram que o BNDES estava prestes a fechar o acordo. Mas o Banco do Brasil, um dos mais arredios nas tratativas, ainda impõe empecilhos à operação. O banco estatal não aceita ceder nas garantias, mas agora sinaliza com outros tipos de flexibilização. Uma fonte que participa das conversas afirma, contudo, que o desfecho ainda é imprevisível.

A Odebrecht conta com a chegada dos recursos para pagar os credores internacionais, mas ninguém espera que o dinheiro novo chegue ao caixa do grupo antes do fim da semana que vem. Se um impasse inviabilizar o empréstimo, o mais provável hoje é que a empresa parta para um processo de recuperação extrajudicial. 

Nesta terça-feira, 24, após divulgar o comunicado ao mercado de que não pagaria a dívida hoje, a empresa fez uma série de reuniões com as agências de classificação de risco e com o principal credor (ou bondholder, no termo em inglês), detentor de cerca de metade do vencimento de hoje. O objetivo era tentar tranquilizar o mercado. Para convencê-los, a empresa mostrou que a disponibilidade de caixa da construtora está na casa de US$ 700 milhões e que, se nenhum acordo for fechado, a holding honrará o compromisso.

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Cenário. Mas a situação é complicada, dizem fontes. Desde que foi envolvida na Operação Lava Jato, a carteira de obras da construtora despencou para menos da metade, de R$ 33 bilhões para R$ 14 bilhões. Com a reputação machucada no Brasil e no exterior e sem obras de peso no mercado interno, a empresa não tem conseguido repor o seu portfólio – responsável por 21% das receitas do grupo.

No meio da turbulência, até a reunião do conselho de administração que marcaria a saída de Emílio Odebrecht da presidência foi adiada de ontem para sexta-feira. Após essa data, o conselho terá novo comando e novos conselheiros.

Fontes afirmam que Newton de Souza será o presidente e Ruy Sampaio e Sergio Foguel conselheiros pelo lado da Odebrecht. Outros nomes do mercado serão indicados como conselheiros independentes, sendo duas mulheres. O Estado apurou que uma delas será Ieda Gomes, ex-presidente da Comgás e ex-vice-presidente da BP.

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Procurados, Itaú, Bradesco e BNDES não comentaram. Ieda Gomes não respondeu os pedidos de entrevista.

Veja abaixo a nota encaminhada pela Odebrecht:

"A Odebrecht Engenharia & Construção (OEC) foi informada que seu acionista controlador Odebrecht S.A, está em estágio avançado de negociações de uma operação financeira que, quando concluída, irá assegurar o suporte adicional que possibilitará a retomada do nosso crescimento sustentável e permitirá honrar nossas obrigações de pagamento dos Bonds com vencimento neste mês de abril, antes do final dos 30 dias do período de carência.

A OEC, juntamente com suas afiliadas, continua a trabalhar para satisfazer suas obrigações financeiras, ao mesmo tempo que mantém a rotina operacional." 

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