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Odebrecht tem plano de recuperação genérico e sem previsão de pagamento

Controladora e 21 empresas apresentam plano de reestruturação de dívidas meramente formal, apenas para atender prazo legal de 60 dias

Foto do author Cynthia Decloedt
Por Cynthia Decloedt (Broadcast)
Atualização:

A controladora do Grupo Odebrecht e 21 empresas a ela ligadas apresentaram um plano de reestruturação de suas dívidas meramente formal, para cumprimento do prazo legal de 60 dias. O plano é bastante genérico, sem detalhar como o grupo pretende pagar os créditos de R$ 51 bilhões que trabalhadores, fornecedores e bancos sem garantia fiduciária têm a receber.

A reestruturação não prevê corte no valor da dívida, o que é importante para os bancos públicos que têm dificuldade para justificar junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) desconto em empréstimos, mas tampouco estipula quando será paga. Apenas envolve a promessa de que os recursos obtidos com a venda de empresas que fazem parte do grupo ou paguem dividendos, como Braskem, Ocyan, Atvos (em recuperação judicial), serão direcionados para pagar dívidas. 

Plano não prevê desconto no valor da dívida, item considerado importante pelos bancos públicos Foto: JD Diorio/Estadão

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Funcionários

O compromisso com os credores será firmado a partir da troca das dívidas atuais por um título participativo, que é quase uma participação acionária. O objetivo é diminuir o endividamento da Odebrecht S.A., a controladora. Os trabalhadores, porém, recebem em 12 meses.

Os recursos que serão separados para o pagamento de dívida não incluem o pagamento de compromissos que estão fora da recuperação judicial. Entre eles estão dívidas com bancos de R$ 13 bilhões garantidas por ações da Braskem, com a União de R$ 3,6 bilhões relativas ao acordo de leniência e cerca de R$ 1 bilhão em dívidas com o governo do Peru.

Luciano Guidolin, presidente do grupo Odebrecht, disse, em nota, esperar por um desfecho o mais rápido possível. “Estamos confiantes que avançaremos rapidamente, e de forma satisfatória, no diálogo em andamento com os credores e na construção coletiva de uma proposta de reestruturação”, afirmou Guidolin. 

Ele afirmou ainda que “a redução do endividamento decorrente do acordo, a excelência técnica de nossos projetos e a transformação já ocorrida na forma de atuação das nossas empresas garantirão a nossa atividade produtiva”. A reestruturação do grupo está sendo conduzida com a assessoria financeira de Ricardo Knopfelmacher e auxílio jurídico do advogado especializado em recuperação judicial Eduardo Munhoz.

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Mesmo com as perspectivas de Guidolin, os desafios para o grupo são grandes. Os principais, daqui em diante, estão na condução das conversar com os bancos em torno da Braskem, empresa de maior valor dentro do grupo e também a única que tem gerado dividendos. Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Bradesco, Itaú Unibanco e Santander têm ações da Braskem, dadas como garantias por empréstimos concedidos ao grupo e em teoria podem executá-las. Caso isso ocorra, a Odebrecht não poderá contar com os dividendos da petroquímica no fluxo desse pagamento. 

No momento, o grupo é beneficiado pelo fato de as ações da Braskem terem despencado. Como o valor de mercado da petroquímica, de R$ 9 bilhões, não paga os R$ 13 bilhões que os bancos têm a receber, não interessaria a eles a execução. Além disso, existe uma disputa na Justiça travada pelo governo de Alagoas contra a Braskem. O Ministério Público Federal (MPF) de Alagoas pede indenização de R$ 20,5 bilhões da petroquímica por danos socioambientais pela exploração de sal-gema. Essa discussão inviabiliza a venda da Braskem, mas também tem mantido congelados os dividendos que a petroquímica repassa à Odebrecht.

Mais credores

Outra negociação relevante para o Grupo Odebrecht em andamento é com os detentores de US$ 3 bilhões em papéis emitidos no exterior pela Odebrecht Finance, braço financeiro do grupo, e garantidos pela construtora, a OEC.

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As conversas ocorrem desde o ano passado e a OEC e, de acordo com fontes, vão demorar alguns meses para serem concluídas. Até aqui, o que se sabe é que esses credores teriam concordado em reduzir essa dívida em torno de 50%. 

A holding e as outras 21 empresas do grupo pediram recuperação judicial em 17 de junho. Com a entrega do plano de recuperação judicial na segunda-feira, 26, o grupo tem mais 120 dias para convocar a assembleia de credores, portanto, fim de dezembro. Fontes próximas à companhia estimam, no entanto, que o juiz pode acabar estendendo esse prazo, dada a complexidade do caso. 

Além dos R$ 51 bilhões previstos no plano e outros R$ 13 bilhões em dívidas com bancos, a dívida total do grupo soma perto de R$ 100 bilhões, se forem contabilizadas dívidas entre as companhias e outros créditos.

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