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Ofertas iniciais de ações disparam e Brasil pode fechar ano atrás somente de EUA e China

Mais de 50 empresas já entraram com pedido de IPO na Comissão de Valores Mobiliários; cálculos indicam que ofertas de ações podem bater novo recorde e chegar a R$ 60 bi em 2020

Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Fernanda Guimarães e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

A liquidez sem precedentes por conta da injeção de trilhões de dólares nas economias pelos bancos centrais, principalmente nos Estados Unidos, e o cenário global de juros baixíssimos têm movimentado o mercado acionário em diversos países. Com a disparada das ofertas de ações, o Brasil passou a ocupar a posição de um dos mercados mais ativos do mundo, com US$ 20 bilhões em 40 operações no ano até agora, ficando na sexta colocação no ranking global. A perspectiva, no entanto, é que com o fôlego para as ofertas previstas daqui até o fim do ano, o País ocupe a terceira posição do ranking, ultrapassando Austrália, Reino Unido e Índia.

Os Estados Unidos e a China, que estão vivenciando uma grande onda de ofertas de ações de empresas de tecnologia, são os primeiros colocados, com US$ 204 bilhões em 670 operações e US$ 136,1 bilhões em 585 transações, respectivamente, conforme dados da Dealogic, compilados a pedido do Estadão/Broadcast.

Antes, apenas as grandes companhias tinham chance de entrar na Bolsa, mas isso tem mudado com o tempo. Foto: Werther Santana/Estadão

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No Brasil, o ritmo ainda vai acelerar até o fim do ano. São mais de 50 empresas já com pedido para realizar suas ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O cálculo dos bancos de investimento é que o volume até o final do ano poderá chegar a R$ 60 bilhões, com 2020 batendo um novo recorde de volumes de emissão, superando, assim, o boom do mercado de capitais brasileiro em 2007.

Ainda segundo dados da Dealogic, a Índia registra no ano até agora US$ 27,8 bilhões em emissões de ações no mercado local. Reino Unido, que vem perdendo posições nos últimos anos, tem no ano US$ 27,4 bilhões. Na Austrália, as emissões de ações chegam a US$ 24,8 no acumulado do ano.

O presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, Gilson Finkelsztain, disse recentemente que com um pano de fundo de amadurecimento do mercado de capitais no Brasil diante de um ambiente inédito de juros baixos, a Bolsa brasileira será palco cada vez mais de IPOs de empresas de diferentes tamanhos. "Antes eram apenas empresas muito grandes que estavam na bolsa e isso explica o porque de só termos cerca de 400 empresas listadas. Em mercados mais maduros, como Estados Unidos, China, há oito mil, nove mil, dez mil empresas listadas", afirmou.

Presença dos estrangeiros

Investidores estrangeiros têm ficado com 30% a 40% dos papéis vendidos nas maiores ofertas de ações este ano. Para o estrategista do banco francês Société Générale, Dev Ashish, países emergentes no geral têm perdido capital externo este ano e com o Brasil não foi diferente. Mas os fluxos de investimento externo direto seguem positivos, mostrando que ao olhar para um prazo mais longo, há interesse pelo País. Além disso, a forte depreciação do real - a moeda de emergente que mais caiu ante o dólar este ano - é vista pelo investidores como um ponto de entrada favorável no Brasil, apesar da situação fiscal, que preocupa.

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Na fila de candidatas a estrearem na B3, há companhias de diversos setores e pela primeira vez uma gama de startups que escolheram se listar na bolsa local e não nos Estados Unidos, como sempre foi o mais recorrente. "Nesse ano se quebrou o estigma de que um IPO de empresa de tecnologia não poderia ser feito no Brasil e com múltiplos atraentes", disse uma fonte de um banco de investimento.

A visão dos economistas é que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e outros BCs de países desenvolvidos não devem retirar tão cedo os estímulos monetários extraordinários adotados para combater os efeitos da pandemia do coronavírus. Só o Fed injetou mais de US$ 3 trilhões no mercado desde março e ao mudar recentemente a meta de inflação, de uma taxa fixa para taxas médias flexíveis, sinalizou que os juros vão seguir perto de zero por mais tempo. Como observa um gestor de hedge fund em Nova York, os investidores vão seguir dispostos a comprar ações e o Brasil, com o enorme mercado interno, continua atrativo, apesar dos percalços políticos.