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Olympus pode ter ligação com a máfia

Investigações sobre fraudes contábeis na companhia japonesa apontam para possíveis pagamentos ao crime organizado no Japão

Por TÓQUIO
Atualização:

Autoridades japonesas dizem que pelo menos US$ 4,9 bilhões não foram contabilizados num escândalo financeiro na Olympus e estão investigando se boa parte desse dinheiro foi para companhias relacionadas ao crime organizado. Num memorando preparado por investigadores que circulou numa reunião recente das autoridades da Comissão de Vigilância das Bolsas de Valores do Japão, o escritório da promotoria de Tóquio e o Departamento e Polícia Metropolitana de Tóquio, as autoridades dizem que estão tentando determinar se a Olympus trabalhou com sindicatos do crime organizado para ocultar bilhões de dólares em prejuízos passados com investimentos, e depois pagou-lhes uma soma exorbitante por seus serviços.O memorando - do qual o New York Times obteve uma cópia de uma pessoa próxima das investigações oficiais - parece vincular pela primeira vez os prejuízos da Olympus a grupos do crime organizado.Ele também sugere que os investigadores acreditam que os pagamentos ilícitos da Olympus foram muito além do cerca de US$ 1,4 bilhão em comissões de fusão e pagamentos de aquisição que ficaram sob recente escrutínio, fazendo do caso um dos maiores escândalos da história corporativa do Japão.Investigação interna. A Olympus, fabricante de aparelhos médicos por imagens e de câmeras digitais, anunciou recentemente que uma investigação interna havia revelado que a companhia usou uma série de aquisições deficitárias para ocultar prejuízos com investimentos nos anos 90, mantendo esses prejuízos fora dos livros durante décadas. A Olympus disse a um painel de especialistas independentes que ainda está contabilizando os números das perdas.A companhia disse que todas as transações foram para mascarar prejuízos. Ela negou rumores de que tentou contratar notórios sindicatos do crime organizado do Japão, conhecidos como Yakuza, para ajudá-la a orquestrar o encobrimento.Mas, segundo o memorando dos investigadores, a Olympus fez pagamentos que ultrapassam muitas vezes os prejuízos que buscava ocultar, e os investigadores suspeitam que boa parte do dinheiro adicional foi para grupos criminosos.A Olympus gastou um total de 481 bilhões de ienes, ou US$ 6,25 bilhões, em pagamentos de aquisições, investimentos e honorários de consultoria questionáveis de 2000 a 2009, segundo o memorando, mas somente 105 bilhões de ienes receberam baixa ou foram contabilizados de alguma outra forma em suas declarações financeiras. Isso deixa 376 bilhões de ienes, ou US$ 4,9 bilhões, não contabilizados, segundo o documento.Crime organizado. O memorando diz ainda que os investigadores acreditam que mais da metade dessa quantia foi canalizada para sindicatos do crime organizado, incluindo o maior do país, o Yamaguchi Gumi. O documento não deixa claro se a Olympus sabia desses vínculos, mas se isso for confirmado, uma associação com o crime organizado poderá provocar a retirada das ações da Olympus da Bolsa de Valores de Tóquio, pelas regras da bolsa.O memorando sugere que a Olympus pode ter sido coagida pelo crime organizado, que sabia das fraudes ou ajudou nos encobrimentos anteriores, canalizando quantias cada vez maiores para fora da empresa."A Olympus foi explorada sobre seus encobrimentos, totalizando perdas de 50 bilhões de ienes, e desde 2000, mais de 200 bilhões de ienes desapareceram na economia subterrânea", diz o memorando.Dirigentes da Olympus disseram na quinta-feira que não tinham nada a comentar de imediato. Em 26 de outubro, quando perguntado sobre a possibilidade do envolvimento de "forças antissociais" no escândalo, um eufemismo para crime organizado, o presidente da Olympus, Shuichi Takayama, disse: "Eu não reconheço absolutamente isso". Até agora, três diretores da empresa foram dispensados ou se demitiram.Os problemas com as aquisições da Olympus foram ventilados pela primeira vez em agosto na revista japonesa Facta. O escândalo se aprofundou em outubro, depois que a Olympus demitiu seu presidente executivo, Michael C. Woodford, que disse ter sido destituído após questionar o conselho da companhia sobre alguns pagamentos.

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