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OMC declara crise, suspende reuniões e paralisa Doha

Depois de mais de 14 horas de conversas, os ministros dos seis principais países da OMC não conseguiram desbloquear as negociações

Por Agencia Estado
Atualização:

A Organização Mundial do Comércio (OMC) declarou crise, nesta segunda-feira, suspendeu as discussões e paralisou a Rodada Doha. Depois de mais de 14 horas de reuniões no último domingo em Genebra, os ministros dos seis principais atores da OMC não conseguiram desbloquear as negociações da Rodada Doha e, na madrugada desta segunda, já se confirmava um colapso total das negociações. ´Foi duro e muito difícil´, disse um dos participantes do encontro. Com a crise, todos os encontros entre os ministros que estavam planejadas para o mês serão canceladas e se cogita, até mesmo, a possibilidade de um entendimento para apenas salvar a imagem da organização em 2007. A reunião de domingo era tida como uma das últimas chances para que os países superassem suas diferenças. O encontro ganhou força também depois que o G-8 (grupo dos sete países mais industrializados, mais a Rússia) declarou, na semana passada, a intenção de que um acordo fosse fechado até meados de agosto. Batalha diplomática No encontro, o Brasil, Índia, Estados Unidos, União Européia, Japão e Austrália (grupo conhecido como G-6), travaram uma verdadeira batalha diplomática para tentar encontrar um consenso sobre como reduzir subsídios agrícolas e tarifas de importação. O diretor da OMC, Pascal Lamy, atuou como mediador. Todos concordaram que se manteria em sigilo as informações que fosse passadas de um ministro a outro. O encontro foi até mesmo transferido da sede da OMC para a missão dos Estados Unidos, para evitar a presença de jornalistas. O chanceler Celso Amorim se recusou a dar qualquer detalhe do conteúdo do encontro. ´Isso pode atrapalhar.´ Toda a esperança era de que a Casa Branca apresentasse uma nova proposta de corte de subsídios. Pela idéia de Washington, a ajuda aos agricultores cairia de US$ 22 bilhões por ano para US$ 18 bilhões. Tanto os europeus como as economias emergentes julgam que o corte é pequeno. Corte maior Durante o encontro de domingo, os Estados Unidos admitiram que poderiam oferecer um corte maior. Mas isso somente ocorreria se Bruxelas tomasse a mesma medida em suas tarifas de importação de bens agrícolas. Os europeus, mantiveram a oferta anterior: corte de 39% - porém, anunciaram que acatariam um aumento de até 51%, porcentagem que foi repetido domingo. Já o Brasil queria uma redução de 53%, enquanto os americanos pressionam por um corte de mais de 60%. O presidente francês, Jacques Chirac, deixou claro no G-8 que seu país não estava disposto a fazer novas concessões. Os americanos também condicionaram a oferta a uma abertura maior dos mercados agrícolas da Índia e de outros países emergentes. A representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab, alertou que, se não aceitassem, a culpa pelo fracasso seria transferida às autoridades de Nova Délhi. O ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, deixou claro que não se importava em ser acusado, já que não cederia. Sem facilitar Tudo indica que nem mesmo a intervenção dos chefes de Estado durante a reunião do G-8 na semana passada conseguiu facilitar uma aproximação das posições. Há uma semana, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush se reuniram em São Petersburgo e, segundo diplomatas que estiveram no encontro, 70% da conversa entre os dois foi sobre o futuro da OMC. ´Quero um acordo grande´, disse Bush, olhando para Lula. Segundo o líder americano, também seria exigido mais do Brasil, mas garantiu que os países em desenvolvimento não sairiam de mãos vazias. ´Vou pedir a vocês (Brasil) maior acesso a seus mercados. Mas estamos prontos a ceder também.Estou pronto para fazer mais.´ Sem um acordo, dois caminhos podem ser seguidos. Um seria o adiamento em dois ou três anos. Outro, menos provável, é que Bush consiga de seu Congresso autorização para continuar negociando em 2007. Não por acaso, diplomatas confirmam que pode estar sendo desenhado um entendimento sobre como encaminhar o processo nos próximos meses, adiando decisões, mas não deixando que a OMC saia de cena. Para analistas, o colapso pode exigir que os países repensem suas políticas comerciais e estratégias para abertura de novos mercados. Prazo Celso Amorim, avaliando o colapso nas reuniões da OMC, classificando a situação "como muito séria". Ele disse que "não chamaria o momento de desastroso, mas a verdade é que esta situação é a mais próxima que podemos ter do desastre". Segundo ele, "existiria a possibilidade de que a rodada seria retomada em quatro ou seis meses", mas ele alerta que este prazo pode ser arriscado. Amorim ainda garantiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não voltará a ligar para os demais chefes de Estado pedindo o fim do impasse nas negociações.

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