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O´Neill diz em off que discordou das restrições ao aço

Por Agencia Estado
Atualização:

Conhecido por sua franqueza, o secretario do Tesouro, Paul O´Neill, disse na ultima quarta-feira que discordou da decisão do presidente George W. Bush de impor tarifas e cotas as importações de aço pelas mesmas razões apontadas pelos usuários de produtos siderúrgicos nos Estados Unidos. As restrições provocarão uma redução de empregos na indústria americana maior do que o número de postos de trabalho que será preservado pelas medidas protecionistas no setor menos eficiente da siderurgia do país, afirmou O´Neill a uma platéia de cerca de duzentas pessoas que foram ouvi-lo num jantar organizado pelo Council of Foreign Relations (CFR), em Washington. Como o evento era "off the record", ou seja, uma discussão a portas-fechadas, o Departamento do Tesouro e o CFR recusaram-se a fornecer transcrições do que foi dito. Mas o conteúdo das afirmações de O ´Neill foi confirmado por várias das pessoas presentes ao New York Times, que noticiou hoje a divergência entre o ministro das Finanças dos EUA e a decisão do governo, na primeira página. Um ex-presidente da Alcoa, O´Neill havia deixado sua oposição à ação protecionista durante as discussões internas que precederam o anúncio do último dia 5, dizendo que elas não faziam sentido do ponto de vista econômico e colocaria em dúvida a credibilidade dos EUA como defensores do livre comércio. Esta semana, durante visita ao Brasil, o representante de Comércio da Casa Branca, Robert Zoellick, reconheceu que a imposição de tarifas de importação de até 30% para produtos siderúrgicos acabados e uma quota tarifária para semi-acabados foi ditada por razões da política interna. "Estamos comprometidos em levar adiante a liberalização comercial, mas, como o Brasil, temos que administrar o apoio político ao livre comércio em casa", afirmou Zoellick em discurso a empresários em São Paulo. A declaração ganhou amplo espaço nos grandes jornais americanos, que haviam criticado duramente a ação protecionista de Bush. A porta-voz do Tesouro, Michelle Davis, disse ao Times que os comentários de O´Neill ao CFR foram consistentes com a política do presidente Bush, segundo a qual as tarifas, isoladamente, não serão suficientes para resolver os problemas da indústria, que enfrenta um problema de excesso de oferta mundial. Um porta-voz da Casa Branca acrescentou que o secretário do Tesouro compartilha da posição de Bush sobre a necessidade de dar tempo à siderurgia americana para se reestruturar. Mas esses esforços não foram suficientes para disfarçar a divisão interna que a decisão protecionista sobre o aço provocou entre os republicanos, que são filosoficamente mais alinhados com a defesa da liberalização comercial. A questão posta pela franqueza de O´Neill é se ela debilitará sua posição numa administração que valoriza a lealdade ao presidente acima de tudo. Essa não é a primeira vez que o secretário do Tesouro afasta-se da linha oficial. Ele fez restrições ao pacote de estímulo à economia defendido pela Casa Branca, concordou com as dúvidas levantadas pela oposição democrata sobre a eficácia do corte de impostos proposto por Bush no ano passado como instrumento para tirar os EUA da recessão. Esta semana, comprou briga com o lobby anticastrista, que é forte na administração, ao defender que um número maior de americanos seja autorizado a visitar Cuba. As declarações destoantes de O´ Neill alimentam freqüentes especulações sobre sua longevidade no governo. No caso do aço, sua manifestação de oposição às restrições imposta por Bush, depois de elas terem sido anunciadas, são especialmente relevantes, porque dão munição aos críticos da medida dentro e fora dos EUA e podem ajudar a União Européia a contestá-la na Organização Mundial de Comercio.

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