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ONGs enfrentam dificuldades para equilibrar orçamento

Estimativa é de que arrecadação fique 15% menor este ano

Por Edison Veiga
Atualização:

Do resgate de gatinhos abandonados a serviços de assistência social, ONGs enfrentam dificuldades para equilibrar seus orçamentos em tempos de crise. Na hora do aperto, cidadãos e empresas reduzem suas doações e patrocínios. A reportagem entrou em contato com 20 entidades do tipo em dezembro e nesta semana. Em média, o ano de 2015 já fechou com uma queda de 30% na arrecadação em relação a 2014; e as perspectivas são ainda piores: a estimativa deste ano é de 15% menor do que 2015.

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Fundada há 13 anos, a ONG Adote um Gatinho registrou uma diminuição, ao longo do último ano, de 17,6% do número de padrinhos ativos – aqueles que colaboram mensalmente. “Sabemos que, na crise, as pessoas começam a cortar pelo supérfluo”, avalia uma das fundadoras, Juliana Bussab. “Tem gato que custa pouco: resgatamos, damos vermífugo e vacina, castramos e doamos. Mas já houve animais que vieram muito machucados, precisando de cirurgia, e tudo ficou em R$ 10 mil.”

A ONG tem uma sede que abriga 200 gatos. Cerca de 30 voluntários também mantêm temporariamente animais em casa, chegando a um total de outros 200. “Mas há uma lista de espera, porque operamos no limite”, diz Juliana. “Não adianta a gente resgatar mais do que podemos. Quebraria a ONG.”

Para Christianne Duarte Garoiu, presidente da Associação Quatro Patinhas – que também atua no resgate de animais abandonados –, um cenário de crise traz problemas nas duas pontas: a diminuição das doações que viabilizam o funcionamento da ONG e o aumento de cães e gatos largados nas ruas. “Sabemos que, infelizmente, na hora de apertar o cinto, há famílias que abandonam os bichinhos”, afirma. Desde dezembro, a associação registra queda de 15% na arrecadação mensal, em relação ao mesmo mês do ano anterior.

A crise social, em consequência da econômica, também está no horizonte da Liga Solidária, organização social cujos projetos beneficiam atualmente 10 mil pessoas. “Com isso, as nossas ações vão ser cada vez mais demandadas – mesmo com o orçamento encurtando”, avalia o superintendente da instituição, Alvino de Souza e Silva. “Um exemplo são nossos programas de qualificação profissional. Temos 240 vagas por ano. Normalmente, apareciam entre 600 e 700 candidatos. No fim do ano, foram 1.050: consequência direta, a meu ver, do aumento do desemprego.”

Na Liga, a determinação está em reduzir custos. “Estamos vendendo o almoço para pagar o jantar”, comenta. “Nossos custos administrativos, que antes eram de 10%, agora foram reduzidos para 8% do total. Com demissões e congelamento de vagas, diminuímos a nossa folha de pagamento também.” No último ano, a instituição eliminou 120 vagas de seu quadro – 10% do total.

“No ano passado, perdemos R$ 8 milhões de receita, ou cerca de 8% do total previsto”, conta ele, sobre a dificuldade de arrecadação. “Para o orçamento de 2016, cortamos 50% dos investimentos previstos, relação ao ano anterior.” 

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