Publicidade

ONU: austeridade eleva risco de recessão na Europa

Por Renato Martins
Atualização:

As medidas de austeridade que estão sendo implementadas por vários países europeus poderão levar a zona do euro de volta à recessão em 2011, diz o relatório anual Situação Econômica Mundial e Perspectivas, divulgado pela ONU. Segundo o documento, os riscos de novas recessões nos Estados Unidos e no Japão são menores do que na Europa.O relatório também diz que a volatilidade elevada nas cotações das principais moedas também poderá "prejudicar" a recuperação da economia mundial. Para a ONU, a economia global deverá crescer 3,1% em 2011 e 3,5% em 2012, após uma expansão de 3,6% em 2010."A perspectiva continua cercada por riscos sérios de recuo. A recuperação poderá sofrer mais recuos se alguns desses riscos se materializarem; nesse caso, uma recessão de duplo mergulho poderá acontecer na Europa, no Japão e nos EUA", afirma o texto. O documento acrescenta que uma nova rodada de estímulo fiscal poderá ser necessária para assegurar que a recuperação seja sustentada, e que ela precisará ser mais bem coordenada em termos internacionais e mais focalizada na criação de empregos.Essa recomendação provavelmente não será atendida na União Europeia, da qual a maioria dos países membros embarcou em programas de austeridade para reduzir a dívida governamental e aliviar o nervosismo dos investidores do mercado de bônus. Para a ONU, porém, "o impacto da austeridade fiscal planejada ou em implementação traz o risco de uma contração econômica renovada".O relatório prevê que a economia da zona do euro vai crescer 1,3% em 2011, depois de uma expansão de 1,6% em 2010, e que três dos 17 países membros terão contrações neste ano: Grécia, Irlanda e Portugal. "Países que atravessam crises fiscais, tais como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, ou continuarão em recessão, ou terão uma recuperação mínima, na melhor das hipóteses", diz o texto.Nos EUA, a previsão da ONU é que a economia tenha um crescimento de 2,2% neste ano, de 2,6% em 2010. "Esse ritmo não reduzirá muito a taxa de desemprego, e a recuperação dos empregos perdidos durante a crise levará pelo menos mais quatro anos", diz o relatório.A ONU estima que 30 milhões de empregos tenham sido perdidos em todo o mundo entre 2007 e 2009 como resultado da crise financeira e da recessão que se seguiu a ela, e que 81 milhões de jovens estão sem trabalho. "A economia global ainda precisa criar pelo menos mais 22 milhões de empregos de modo a voltar ao nível de emprego global anterior à crise. No atual ritmo de recuperação, isso demoraria pelo menos cinco anos", afirma o texto.O relatório prevê que a economia do Japão terá um crescimento de 1,1% em 2011, de 2,7% em 2010, e que a China tenha um crescimento de 8,9% neste ano, de 10,1% em 2010.O documento diz que a volatilidade nos mercados de moedas e conflitos entre as principais economias em torno de políticas que afetam o câmbio também são ameaças ao crescimento. "Tensões elevadas quanto ao câmbio e ao comércio podem muito bem provocar uma turbulência renovada nos mercados financeiros, prejudicando a recuperação", diz o relatório.Segundo a ONU, a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de implementar uma segunda rodada de afrouxamento quantitativo da política monetária foi o principal gatilho para o último surto de tensões entre os países em torno da questão do câmbio, porque levou a um grande fluxo de capitais para as economias em desenvolvimento, à valorização do euro e do iene e à introdução de controles de capital, assim como de intervenções nos mercados de moedas. "Tensões em torno do câmbio emergiram em parte como resultado de políticas monetárias expansionistas não coordenadas, que consistem essencialmente em imprimir mais dinheiro", diz o documento.O texto diz que reduzir o papel do dólar como moeda de reserva global é uma das medidas necessárias para assegurar que a recuperação seja sustentada. A ONU também recomenda que o G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) desenvolva planos "mais específicos e concretos" para reequilibrar a demanda global. As informações são da Dow Jones.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.