PUBLICIDADE

Publicidade

ONU fará reunião de urgência sobre crise de alimentos

Por JAMIL CHADE
Atualização:

A Organização das Nações Unidas (ONU) pede que todos os países, inclusive o Brasil, mantenham seu comércio de alimentos aberto, prepara um novo plano para lidar com a fome no mundo e já classifica a alta nos preços das commodities como uma "crise global e real". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou para a próxima segunda e terça-feira a cúpula da ONU para uma reunião de emergência na Suíça para estabelecer o novo plano. A estratégia terá duas etapas. A primeira será o incremento do orçamento da ONU para alimentar cerca de 77 milhões de pessoas em todo o mundo. Para isso, a entidade pede a doação de US$ 755 milhões a mais que o plano feito no final de 2007, de US$ 2,9 bilhões. Até agora, o Programa Mundial de Alimentos da ONU já arrecadou 63% da quantia extra e a entidade espera novas doações até o final do mês. Ban está convencido de que os governos ricos podem ajudar a dar uma solução à crise. Mas precisam de coordenação, vontade política e novos recursos. O que ele teme é que vários governos usem recursos que estavam sendo destinados a outros programas sociais nos países mais pobres para solucionar a questão da fome. O resultado, portanto, seria uma "cascata" de crises, já que faltariam recursos na saúde, educação e outros setores. O dinheiro, segundo Ban, iria para refugiados, mulheres e crianças, como prioridade. Vítimas de desastres naturais também seriam atendidas primeiro. Um segundo passo será a elaboração de uma estratégia para promover na África uma "revolução verde". Isso incluirá recursos para treinamento de agricultores, maior tecnologia e recursos para a região. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participará indiretamente dessa revolução, já que está percorrendo o interior do continente para analisar como adaptar sementes aos terrenos africanos. Arroz A ONU calcula que a crise já atinge 100 milhões de pessoas e pede que os governos mantenham abertos seus canais comerciais e não apliquem restrições às exportações, como no caso da medida tomada pelo Brasil para o arroz. Na cúpula da ONU, a medida do governo sobre o arroz foi mal recebida, já que o País é considerado como um aliado na pressão pela abertura dos mercados. "Há o temor de que outros países pensem que se o Brasil, que é o terceiro maior exportador de alimentos do mundo, toma tais decisões de restrição para alimentar sua população, todos tem o direito de fazer o mesmo. A conseqüência seria devastadora para a economia mundial se isso se proliferar", alertou um assessor próximo a Ban. O chefe da diplomacia da ONU pediu hoje ainda que os canais de distribuição de alimentos sejam mantidos livres de obstáculos. O preço do arroz triplicou neste ano na Ásia, e a revolta contra o custo da alimentação já gera conflitos em pelo menos 15 países. No Haiti, uma das preocupações da ONU, o próprio governo brasileiro pediu que a entidade não colocasse os soldados brasileiros na linha de frente para tentar conter as revoltas da população faminta. Na Costa do Marfim, Ban se reuniu com os líderes do governo de Laurant Gbagbo. As autoridades que prometem realizar eleições e acabar com a ditadura alertaram a Ban em reuniões privadas que a fome hoje é um risco maior para a estabilidade e para as eleições que os próprios rebeldes e sua luta pelo poder. Para a ONU, a crise dos alimentos está sendo gerada por fatores como a alta no barril do petróleo, que encarece os custos de produção e de transporte, além de gerar a alta nos próprios fertilizantes. Outro fator é a seca em várias regiões, além da maior demanda por comida entre os chineses, indianos e a nova classe média mundial. Ban, porém, rejeita responsabilizar o etanol (álcool combustível) pelos problemas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.