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Operação Twist

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming
Atualização:

A falta de reação da economia dos Estados Unidos está levando o mercado financeiro internacional a pressionar por novas ações do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). É o que um grande número de analistas internacionais aguarda com ansiedade que seja anunciado amanhã, ao mesmo tempo que o Fed divulgar o resultado de mais uma reunião destinada a reexaminar os juros.Desde junho, a reivindicação-padrão era a de que o Fed, presidido por Ben Bernanke, voltasse a comprar títulos do Tesouro americano no mercado secundário, dentro do que se convencionou chamar de afrouxamento quantitativo (quantitative easing).Essa operação consiste em emitir moeda e, com ela, comprar os títulos. O objetivo é injetar dinheiro no mercado para que o crédito se expanda e, com ele, o consumo, a produção e o resto da atividade econômica.Afora as outras emissões de US$ 1,7 bilhão destinadas a resgatar títulos privados que estavam sem liquidez desde meados de 2008, quando do estouro da crise, o Fed fez duas operações de afrouxamento quantitativo, num total de US$ 900 bilhões. O resultado foi fraco ou, mesmo, inexistente. Em vez de reemprestar ao setor privado, os bancos preferiram depositar os recursos no próprio Fed, porque entenderam que o mercado já estava excessivamente endividado.Depois de insistirem em novas operações de afrouxamento quantitativo e verem pouca disposição em atendê-los, os analistas querem agora que o Fed coloque em movimento a chamada Operação Twist. O nome vem do primeiro evento no gênero, em 1961, quando o twist era a dança da moda.Trata-se da troca de títulos de curto prazo em poder do Fed por títulos de longo prazo. Do ponto de vista da autoridade monetária, essa operação traz duas vantagens sobre a anterior. Primeira, não aumenta a carteira de títulos do Fed - ou seja, dispensa emissões adicionais de moeda. Segunda, cria demanda para títulos de longo prazo, na mesma proporção em que haja troca. A consequência esperada é a redução dos juros de longo prazo que, por sua vez, tende a expandir o horizonte para as empresas e, assim, incentivar investimentos. O Fed tem em carteira cerca de US$ 500 bilhões em títulos do Tesouro com vencimento previsto de menos de três anos. Provavelmente por falta de opções à mão, o mercado financeiro deposita esperanças excessivas nessa operação. Se injeção na veia (o afrouxamento quantitativo) não teve o resultado esperado, não serão esses comprimidos de Novalgina que darão conta do recado.Não faltam recursos. Ao contrário, nunca se viu tanta liquidez. E, no entanto, nem os bancos se animam a emprestar para seus clientes nem estes se animam a se endividar ainda mais. Somente no setor imobiliário, o setor privado dos Estados Unidos enfrenta dívidas (hipotecas) que ultrapassam os US$ 12 trilhões. Repetindo o que ficou dito aqui algumas vezes: uma saída seria uma operação que reduzisse em determinado prazo as dívidas dos mutuários, abrindo espaço para novos endividamentos. Aparentemente, o que impede isso é a oposição do Partido Republicano, sempre disposto a explorar o argumento de que é injusto alguns pagarem tudo (os que já saldaram suas dívidas habitacionais) e os folgados serem beneficiados com um perdão que, de resto, tem objetivos eleitorais.

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