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Oportunidades para empresas multilatinas

Por Paulo Paiva
Atualização:

As perspectivas de crescimento econômico pós-crise põem em trilhas diferentes os países industrializados e os emergentes. Aqueles têm um caminho árduo com crescimento lento para os próximos anos ou décadas, enquanto estes, uma rápida expansão. Essas tendências divergem daquelas das últimas décadas, quando os países industrializados avançavam mais celeremente graças ao aumento relativo da sua produtividade, quando comparada à dos países emergentes. O fosso aumentava. Agora, ao contrário, diminui. Assim, surge uma clara possibilidade para reduzir nos próximos anos a distância entre a produtividade total dos fatores dos principais países latino-americanos e dos EUA.Há, na América Latina, uma combinação virtuosa de gestão macroeconômica responsável com expansão das exportações e aumento do consumo doméstico, este decorrente da incorporação crescente de camadas da população na chamada "nova classe média". Tudo isso num contexto de estabilidade democrática. Economias como a do Brasil, do Chile, da Colômbia e do Peru, exportadores de commodities, têm apresentado um ótimo desempenho.Esse ambiente favorável contribui para a expansão das empresas na região. De um lado, estimula a diversificação da produção e abre espaço para novos empreendimentos nos setores de serviços, como educação, saúde e turismo, por exemplo. De outro, as reformas econômicas e as privatizações ofereceram oportunidades para o crescimento do setor privado em atividades que eram exclusivas de empresas públicas. Fortaleceram, por exemplo, empresas privadas nos setores de mineração, construção pesada e telecomunicações.Ademais, crescem as oportunidades para a expansão de negócios com controle acionário latino-americano e sede em seus países, mas com filiais em outros países, quer da região, quer extrarregionais. São as chamadas empresas multilatinas. Para defini-las e classificá-las, consideram-se suas operações no exterior, a cobertura geográfica das suas atividades e o seu potencial de crescimento internacional. De acordo com o ranking da América Economia, este ano existem 66 empresas multilatinas, das quais 27 são brasileiras.As oportunidades para a expansão das empresas multilatinas crescem com o fortalecimento das economias da região e o aumento de sua participação relativa no total do produto mundial. As possibilidades de capitalização, de fusões e aquisições e do desenvolvimento de novos negócios estão diretamente relacionadas à estabilidade tanto econômica quanto política na região. E o futuro para essas empresas é bastante promissor.Contudo, existem ameaças que podem frustrar essas oportunidades. A interrupção das reformas econômicas e dos programas de privatizações tem como consequência a precária situação da infraestrutura na região, uma restrição ao crescimento econômico. A ausência de boa integração regional nos setores de logística, telecomunicações e energia é outra restrição que dificulta a conquista do mercado latino-americano. Na área de mercados de capitais, há também necessidade de fortalecimento da integração intrarregional, permitindo maior captação de poupança para contribuir à capitalização das multilatinas. São ainda necessários esforços visando a compatibilizar marcos regulatórios que facilitem as relações comerciais e financeiras dentro da região. Finalmente, são necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento para contribuir para a expansão do registro de patentes latino-americanas. Enfim, inovação e excelência na gestão são fundamentais para o sucesso empresarial.Parece-me que, com as empresas multilatinas, surge uma oportunidade de integração mais sólida e duradoura na América Latina do que têm sido as tentativas pouco eficazes de acordos comerciais ou de livre comércio. Os governos nacionais poderiam atuar de forma cooperativa para ajudar a consolidar um novo padrão de desenvolvimento comercial e empresarial na região.PROFESSOR DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL, FOI MINISTRO DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO E MINISTRO DO TRABALHO NO GOVERNO FHC

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