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Organização camponesa diz que frango brasileiro é ´lixo´

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos principais produtos da pauta brasileira de exportações, o frango, foi duramente criticado hoje pelo representante da organização camponesa internacional Via Campesina, Paul Nicholson, na Conferência Especial Soberania Alimentar, no Fórum Social Mundial 2002. "É um frango-lixo", atacou ele, em sua exposição, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Um frango intensivo industrializado neoliberal." Mesmo diante de muitos cidadãos brasileiros, Nicholson não mostrou constrangimento por estar atacando, no Brasil, um produto local, com qualidade reconhecida no Exterior, do qual o País é um dos maiores exportadores mundiais. "Não é uma questão nacional", disse à platéia, que misturava delegados brasileiros e estrangeiros. "Por ser brasileiro não é necessariamente bom." Gado - No balaio de críticas ao que chamou de "modelo produtivo agroquímico" de produção de alimentos, Nicholson colocou também o gado de muitos países do Primeiro Mundo, atacado recentemente por uma epidemia da doença da vaca louca, que dizimou rebanhos europeus. "Foram vacas-loucas neoliberais, diretamente ligadas ao modelo produtivo neoliberal", declarou. A moléstia é transmitida por ração feita com proteína e ossos de animais, usada em processos de engorda rápida e em larga escala. Assim se espalha. Outro ponto do processo de "produção agrícola neoliberal" criticado pelo representante da Via Campesina foi a importação de alimentos a preços abaixo dos custos de produção, num processo de dumping. "Dizemos que os preços têm que ser pagos", afirmou. "Comida barata e boa não é necessariamente sã." Ele advertiu que essas importações destróem a cultura produtiva e a agrobiodiversidade locais. "E uma coisa é muito clara: a comida é local." Soberania alimentar - Nicholson explicou que o conceito de soberania alimentar engloba não apenas o acesso aos alimentos, mas a sua produção local, respeitando a alimentação, cultura, biodiversidade e sementes de cada país. A liberação do comércio internacional, por isso, foi apontada como ameaça, com a imposição dos alimentos importados. "Em 1996, a Via Campesina expôs, na Conferência Internacional sobre Segurança Alimentar, o conceito de soberania alimentar", contou. "Perdemos a votação na grande assembléia de organizações não-governamentais. Hoje, seria reconhecido." Ele disse que estava falando de um conflito Norte-Sul, mas de uma luta entre modelos, que perpassa os Estados. "Nos Estados Unidos, menos de 1% são camponeses", disse. "Há mais presos que gente no campo." Nicholson disse que a maioria da população do mundo não vive nas cidades e previu que a imposição do modelo neoliberal ao campo vai provocar grandes migrações para áreas urbanas. "Na China, por causa da entrada do país na Organização Mundial de Comércio (OMC), haverá deslocamento de 125 milhões de pessoas." Segundo ele, a soberania alimentar "não é para agricultores, é para a sociedade".

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