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Os falsos profetas do crescimento

Por ERNESTO LOZARDO
Atualização:

Surgem no debate econômico nacional temas de efeito midiático, mas sem consistência teórica. Um deles é a alegação de que a economia brasileira não cresce por falta de poupança. Essa consiste na oferta de recursos para atender à demanda de investimento e, assim, promover o crescimento. Alguns economistas entendem que, sem poupança interna que atenda à demanda de investimento, a economia passa a depender da poupança externa, ou seja, do capital internacional como forma de financiar o crescimento. Para que esse capital continue fluindo para a economia, as políticas monetária e cambial, interligadas, devem assegurar o fluxo desses recursos. Nesse caso, a política monetária perde o grau de liberdade do seu mandato: assegurar a estabilidade de preços e da renda real das famílias. Mas será que, pelo fato de apresentar baixo nível de poupança em porcentagem do PIB, a economia brasileira estaria condenada a não crescer e depender do capital externo? Os países em desenvolvimento e com baixa poupança, mas com razoável distribuição da renda por habitante, política fiscal expansionista com vista à estruturação do desenvolvimento (infraestrutura, ciência e tecnologia) e medidas distributivistas da renda tendem a estimular o crescimento rápido e aumentar o nível de poupança no médio prazo. Já os países com elevada desigualdade da renda social e política fiscal expansionista não desenvolvimentista estimulam a concentração da renda, e o crescimento se torna insuficiente, socialmente conflituoso e sem o ambiente favorável ao investimento e à poupança. No primeiro caso (crescimento rápido e formação de poupança), trata-se das economias asiáticas; no segundo, de países como Argentina, Venezuela, Equador e Bolívia. Ao se propor que a economia brasileira não cresce por conta da falta de poupança interna e, portanto, depende do capital internacional, está-se empregando a velha teoria da dependência que arrastou os países latino-americanos à armadilha da baixa renda por habitante. São falsos postulados sobre a incapacidade de crescimento dos países pobres em capital, mas ricos em recursos naturais. O erro está na estratégia do crescimento, e não na natureza dos recursos naturais existentes. Os países asiáticos, pobres em recursos naturais e em capital, entenderam que o processo evolutivo de seu desenvolvimento seria por meio da inserção global da cadeia produtiva industrial, apropriando-se de conhecimentos científicos e tecnológicos e, ao mesmo tempo, promover o crescimento com distribuição de renda. Os resultados econômicos e sociais desses países retratam melhor a assertividade da política de desenvolvimento distributivista. No Brasil, numa visão de futuro, a política de crescimento e de desenvolvimento econômico deve pautar-se por: estabilidade dos preços e dos juros reais de longo prazo; formação do estoque de capital; qualidade da mão de obra; eliminação da pobreza; promoção do setor de manufaturas como parte da cadeia global de produção; aceleração dos investimentos na modernização da infraestrutura e da logística; e carga tributária compatível com a dos países emergentes. A atual agenda de investimentos em logística e em infraestrutura representa o grande salto em direção do desenvolvimento do interior, interligando a produção nacional aos principais portos e aeroportos do País. Esses são os reais desafios da economia brasileira e, no processo de obtenção desses resultados, formar-se-á a poupança nacional pública e privada. A formação da poupança é resultante e não iniciadora do processo de crescimento econômico. Assim ocorreu na China e nos Estados Unidos. A principal contribuição do governo federal é evitar o excesso de ativismo fiscal, perseguir meta de déficit nominal zero e política monetária que assegure o poder de compra da renda, pois nesses ingredientes macroeconômicos residem as principais fontes de inflação, de incertezas do empresário e do crescimento. * ERNESTO LOZARDO É PROFESSOR DE ECONOMIA DA EAESP-FGV.

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