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'Os impactos do coronavírus na economia serão profundos e duradouros'

Para Horácio Lafer Piva, acionista e membro do conselho da Klabin, mundo sairá mais pobre e angustiado dessa crise e terá de encontrar novas maneiras de lidar com a má distribuição de renda e o ataque ao meio ambiente

Por Renée Pereira 
Atualização:

O empresário Horácio Lafer Piva, acionista e membro do Conselho de Administração da Klabin, vê com preocupação a crise gerada pela pandemia do coronavírus e acredita que os efeitos na economia serão profundos e duradouros. Na avaliação dele, no entanto, o momento é de cuidados para preservar vidas. “Eu defendo isolamento ainda, testes e mais testes, seguido de programa para pessoas com risco, com liberação cuidadosa, parcial e mensurada. Mas isso não imediatamente, creio que temos ainda umas duas semanas pela frente para entender exatamente o cenário e as possibilidades.”

Horácio Lafer Piva, acionista e membro do conselho da Klabin. Foto: Daniela Ramiro

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Piva, que já foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), elogia a competência do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mas critica a postura do presidente da República, Jair Bolsonaro. “Ele não faz outra coisa a não ser nos surpreender, e a sua voz e posição, que deveriam ser as mais relevantes, são muito mais problema que solução.” A seguir, a entrevista:

Como o sr. vê os impactos do coronavírus no economia?

Serão muito profundos e duradouros. Esses impactos agem em todas as cadeias de produção e serviços, e sua recuperação levará algum tempo, ultrapassando o ano de 2020. Uma crise histórica, que aconteceu de forma relativamente rápida, mas que levará tempo para cicatrizar. Haverá perda de renda, de capacidade de consumo, de criação de riqueza, de vigor para investimentos, afetando as estruturas de clientes e fornecedores. Não nos entreguemos ao pânico, mas cuidado com um olhar panglossiano.

Há hoje no País uma discussão de qual a melhor forma de combater a economia, se mantém a quarentena ou se libera as pessoas para não devastar a economia. Há um meio termo?

Tem de haver, mas com muito cuidado. Antes, temos de preservar a vida. É hora de tratar do urgente, depois voltaremos ao fundamental. Eu defendo isolamento ainda, testes e mais testes, seguido de programa para pessoas com risco, com liberação cuidadosa, parcial e mensurada. Mas isso não imediatamente. Creio que temos ainda umas duas semanas pela frente para entender exatamente o cenário e as possibilidades.

As medidas anunciadas até agora pelos governos são suficientes? 

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Creio que os governos estaduais estão mais atentos que o federal. É inegável a competência do ministro da saúde (Luiz Henrique) Mandetta. Mas o presidente (Jair) Bolsonaro não faz outra coisa a não ser nos surpreender, e a sua voz e posição, que deveriam ser as mais relevantes, são muito mais problema que solução. Mesmo a ajuda econômica ainda é modesta e encrencada. Conversas do tipo “antecipação de rendimentos” soam estranhas, pois apenas jogam o problema para frente. Os governos estaduais têm de cuidar, o federal tem de ser mais criativo, generoso, claro e condutor.

O sr. acha que a condução dessa crise no Brasil está no caminho certo?

Começamos tarde, como sempre, mas o ministro (Mandetta) tem pulso, equipe e credibilidade. Me parece que estamos no caminho certo, mas precisamos mais cuidado, mais insumos e mais controle. Depende dele, mas depende também das outras instâncias de Poder, e da própria população se ajudar no que se refere a seguir a ciência, e não às -bobagens que aparecem diariamente.

Qual o reflexo da divergência entre os governantes?

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O reflexo é a desinformação, a perda de confiança, o desperdício de recursos e a decepção com nossas lideranças. E vamos combinar que estamos falando dos 3 Poderes, tanto do ponto de vista de suas relações internas quanto aquelas entre eles. Não adiantam ideias boas se o fluxo não funcionar, a agilidade de ação é vital agora. Mas creio que há ao menos foco e bom senso por parte de governadores, prefeitos e boa parte do Congresso e ministros.

Como sairemos dessa crise, uma vez que estávamos saindo de outra grave crise?

É preciso não fugir da realidade, sairemos mais pobres, mais angustiados e mais atrapalhados no que se refere aos desafios empresariais, à questão do desemprego e dos trabalhadores formais e informais, às contas públicas. Nós e todos em diferentes graus. Por outro lado, eu espero que muitos que dizem acreditar num mundo mais xenófobo e menos global estejam errados. E que o que vamos encontrar seja uma nova maneira, mais unidos, de ver e lidar com o que de fato já mostrava o cansaço da natureza com nosso excesso de consumo, acumulação, má distribuição de renda e ataque ao meio ambiente.

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