PUBLICIDADE

Publicidade

Os pobres e os privilegiados

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

SUELY

PUBLICIDADE

CALDAS

Na quinta-feira, o economista Ricardo Paes de Barros foi ao Instituto Lula para falar sobre desigualdade social e políticas públicas. Presentes na plateia o ex-presidente Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, e a cúpula da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Professor do Insper, um reduto de "neoliberais" na visão de economistas ligados ao PT, Paes de Barros é conhecido no meio universitário como um competente estudioso de políticas públicas dirigidas a reduzir a pobreza e distribuir a renda e um crítico incansável de grupos e corporações de privilegiados que se apropriam do dinheiro público e intensificam a concentração da renda no Brasil.

É dele a frase "se jogar dinheiro de cima de um avião, chega mais fácil ao pobre do que por meio das políticas sociais". Isso foi no final dos anos 90. Na plateia não estava Lula, mas a socióloga Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente FHC. Dia seguinte, dona Ruth autorizou e um grupo de economistas, entre eles Paes de Barros, trabalhou na concepção de um programa de transferência de renda de ricos para pobres, com abrangência nacional, que eliminasse os políticos da intermediação e entregasse o dinheiro diretamente ao pobre, por meio de cartão magnético bancário. Nascia o Bolsa Escola, que, em 2003, Lula mudou o nome para Bolsa Família, agregando o Vale Gás e outros programas sociais da gestão FHC.

Nos anos 90, o Instituto da Cidadania, ligado ao PT, também tinha sua proposta para reduzir a pobreza: bastava criar um fundo financeiro abastecido com o aumento de 10% para 15% nas gorjetas dos restaurantes. O que fazer com o dinheiro do fundo o instituto não explicava. Já com Lula no governo, o então ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome, o agrônomo José Graziano, propôs financiar restaurantes que seriam explorados por mulheres pobres para fornecer refeições a preços bem baratinhos, como meio de combater a fome. Os restaurantes, explicava Graziano, funcionariam na garagem da casa das mulheres pobres. Claro, a ideia não vingou. Afinal, mulher pobre mal tem casa, quanto mais garagem!

Para Lula e convidados de seu instituto, Paes de Barros falou do "fantástico" progresso social ocorrido no Brasil entre 2001 e 2014, que se deu por meio dos programas de transferência de renda, com ênfase para os 10% mais pobres, e por meio do maior acesso ao trabalho para a metade dos pobres. E, como crítico dos privilégios, ele destacou a desigualdade salarial no setor público, que, na atual tragédia fiscal, teria papel central no equilíbrio orçamentário: "É possível reduzir nominalmente os salários do funcionalismo público sem tocar nos 50% mais pobres da população", argumentou. Mas como convencer Lula e a CUT de reduzir salários de suas bases políticas?

É inegável o progresso social dos últimos 15 anos. E, embora o desemprego acelerado ameace os avanços na redução da pobreza, o saldo ainda é positivo. Mas nestes 15 anos em nada mudaram os privilégios e a corrida de grupos e corporações para alcançar o dinheiro público. A estrutura permanece intacta e no período Lula até pirou, porque incorporou novos atores.

Publicidade

Um exemplo foi o uso do BNDES para conceder empréstimos bilionários e subsidiados a corporações amigas e apoiadoras do governo, conhecidas como campeãs nacionais. Uma delas, a JBS, que tem na presidência do conselho de administração o ex-BC Henrique Meirelles, amigo que Lula sonha ver ministro da Fazenda, está sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "A JBS é quase uma estatal", espantou-se o ministro Bruno Dantas, do TCU, ao constatar que o banco injetou R$ 8,1 bilhões em participação no capital da JBS.

Outros exemplos: as isenções fiscais às indústrias automobilística e eletroeletrônica, que subtraíram dinheiro da arrecadação tributária e causaram desemprego e queda nas vendas com a retirada dos incentivos; as verbas públicas que sustentam inoperantes sindicatos de trabalhadores e o Sistema S, que alimenta os sindicatos patronais; os subsídios a estaleiros, que agora desempregam. Enfim, a lista é tão longa...

É JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO

E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.