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"Os povos e as nações valem mais do que mercados", diz FHC

Por Agencia Estado
Atualização:

Em mais um dia de alta recorde do dólar, o presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou a solenidade de abertura da reunião dos países da Comunidade de Língua Portuguesa para ?fazer um chamado à razão e à sensatez?, ao avisar que ?que os povos e as nações valem mais do que os mercados?. Fernando Henrique, que leu o discurso com dificuldade por causa da rouquidão em conseqüência da forte gripe que o acompanha desde o fim de semana, depois de passar o dia acompanhando a evolução da economia, mandou um recado aos especuladores ao afirmar que ?sem povo, e sem Nação, não existe mercado?, advertiu que ?nada abalará a a confiança nos rumos traçados? e voltou a atacar ?o protecionismo dos países desenvolvidos? que prejudicam as exportações dos países em desenvolvimento. Depois de ressaltar que ?o mundo tem sofrido com conseqüências das crises e turbulências geradas pela especulação?, o presidente reiterou que todos ?reconhecem os fundamentos sólidos de uma economia como a brasileira?. Ele insistiu ainda que vai ?continuar a lutar contra a volatividade dos fluxos de capital?. Para o presidente, ?é mais do que hora de se pensar em uma nova arquitetura financeira e em um regulamentação mais equitativa das trocas internacionais?. Em seguida, voltou a criticar o protecionismo dos países mais ricos. ?Vamos continuar a combater o protecionismo de toda sorte de barreiras impostas aos produtos de exportação do mundo em desenvolvimento?, desabafou o presidente, no Itamaraty, sob aplauso dos oito representantes dos países da CPLP. ?Trabalhemos para que a questão agrícola receba a prioridade devida nas tratativas da Organização Mundial do Comércio?, afirmou Fernando Henrique, acrescentando que ?não há porque postergar a ampliação do intercâmbio entre nossos países?. O presidente lembrou um discurso que fez em Guayaquil, no Equador, no último final de semana, ao falar sobre os novos horizontes que devem balizar os integrantes da CPLP. Para ele, ?quem sabe agora, no momento em que o mundo aceitou e não teve alternativa de uma agenda muito mais restrita que a agenda anterior, mais voltada para as questões de segurança, em função dos atentados de 11 de setembro, quem sabe agora os países como os nossos, que por sorte não são perscrultados pelo radar daqueles que ficam mirando questões de segurança, sob a ótica do terrorismo, quem sabe possamos nós ter a decisão, a calma e a coragem de enfrentar, por nossa conta, nossos problemas?. Em seguida, o presidente fez referência "ao mundo conturbado que estamos vivendo hoje, que está concentrado em assuntos que têm imensa relevância, mas que, seguramente, está preocupado com assuntos que não afetam as questões mais contundentes dos nossos países, que são a pobreza e a necessidade de desenvolvimento". Na opinião do presidente, esses países que reunidos ali tinham que se preocupar com a necessidade de acesso aos mercados, e a necessidade de absorvers e criar formas novas de tecnologia e de conhecimento, que irão auxiliar o desenvolvimento. "E, somente depois disso, é que se poderá, com mais energia ainda, concentrarmo-nos sobre nossas próprias forças, nossos problemas, e possamos avançar, possamos insistir na cooperação entre os países", disse. Para ele, nada mais impede os países da Comunidade de Língua Portuguesa concentrem esforços na causa do desenvolvimento. Ele lembou que, dez anos após a Rio 92, que tratou das ameaças ao meio ambiente, ?o desenvolvimento sustentável é conceito consagrado, mas ainda de eficácia relativa por conta da omissão dos países mais afluentes?. E desabafou: ?esperamos que a cúpula mundial a ser realizada na África do Sul (no final de agosto), permita avanços decisivos na direção de uma globalização mais justa e solidária?. Apesar da gripe, o presidente não perdeu o bom-humor. Em um dos discursos que fez na cerimônia, Fernando Henrique voltou a brincar com o fim de seu governo, em tom saudosista. Ao ser empossado como presidente pro-tempore da CPLP, Fernando Henrique comentou que estava exercendo três cargos de presidente. ?É muita presidência para um pobre marquês?, disse, arrancando risos da platéia. Ele se referia à presidência do Mercosul, que assumiu também temporariamente e a da República, para a qual fez questão de lembrar que foi eleito pelo povo. Daqui a pouco, conforme ressaltou, não estará mais em nenhuma delas, já que deixa o Planalto em alguns meses.

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