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Os robôs que ajudam o contato humano

Máquinas de telepresença são alternativa para monitorar idosos e até para pais contarem histórias de ninar aos filhos quando estão longe

Por ANNE EISENBERG
Atualização:

Alguns anos atrás, a introdução de robôs sobre rodas comandados por controle remoto trouxe uma nova dimensão para chamadas em vídeo pela internet, permitindo a continuidade da conversa enquanto as pessoas se deslocavam de um cômodo para outro. Mas, por seu alto custo, tornou-se uma raridade na vida real. Agora, isso está mudando e os robôs estão se tornando suficientemente baratos para que, em breve, possam ter muitos usos práticos.

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Os robôs, conhecidos como máquinas de telepresença, poderiam servir de meios para visitas virtuais de familiares e para ajudar pessoas idosas a viverem por mais tempo em suas casas. Pessoas em viagens de negócio poderiam usá-los para mostrar seus rostos - por meio de uma tela no robô móvel - a colegas na sede da empresa, ou ler histórias de ninar para seus filhos, de longe. Mas, segundo especialistas em ética da tecnologia, também é possível que as máquinas possam facilmente substituir o importante contato emocional de visitas reais.

Filhos adultos que quiserem acompanhar um parente idoso poderiam estacionar uma máquina de telepresença em seu quarto e depois guiá-la à distância por meio do seu computador. A máquina, que parece um televisor sobre rodas, transmitiria imagens de vídeo ao vivo para o computador. E se o parente se deslocasse para a sala de jantar durante a conversa, a máquina o acompanharia.

Isso parece promissor. No entanto, "é preciso ficar atento ao que pode ocorrer com máquinas de telepresença", disse Noel Sharkey, um professor da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, que escreveu profusamente sobre robôs. "Se você puder usar um robô comandado por controle remoto para visitar virtualmente sua mãe idosa, há chances menores de você querer entrar no carro e ir vê-la pessoalmente", disse Sharkey. "Alguém que vive a dez quilômetros de distância diria: 'Oh, não vou me incomodar. Vai passar uma coisa boa na TV. Ela vai ficar bem, porque eu a acompanharei pelo robô'."

Yvette Pearson, professora assistente do departamento de filosofia e estudos religiosos da Old Dominion University, concorda com Sharkey. "Os robôs poderiam justificar a diminuição da quantidade de visitas na vida das pessoas", disse Pearson, cujas pesquisas incluem a ética na robótica. "Essa é uma desvantagem que preocupa a muitos de nossa área."

Mesmo assim, disse ela, é uma vantagem haver uma pessoa real no circuito: o visitante que opera o robô cujo rosto é visto na tela. "O robô está funcionando como um mediador da interação humana e não como um substituto", alegou.

Se membros da família não estiverem a uma distância que permita visitas, as máquinas podem ser valiosas para ajudar as pessoas idosas e seus filhos a ficarem em contato, disse Sharkey. As máquinas poderiam oferecer uma maneira discreta de os filhos se assegurarem, por exemplo, de que os remédios e outros objetos de uso constante de seus pais estão à mão. Mas Sharkey advertiu que os robôs não são substitutos perfeitos para os humanos. "Eles não serão capazes de substituir a experiência de compartilhar um espaço e dar um abraço em um parente vivo", disse.

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Idosos.

Wendy A. Rogers, uma professora e diretora do Instituto de Tecnologia da Georgia que pesquisa a interação entre humanos e robôs, diz que os robôs podem se mostrar adições bem-vindas nas vidas dos idosos. "Em nossas pesquisas, os idosos têm sido muito abertos a ter robôs em suas casas", disse ela. "Não estou dizendo que algumas pessoas não os verão como cruéis ou invasivos", acrescentou. "Mas, em minha experiência, idosos foram bem mais receptivos à ideia do que os estereótipos poderiam sugerir."

Para se tornar conhecida no mercado de consumo, uma empresa chamada Suitable Technologies está oferecendo sua máquina de telepresença Beam+ pelo que é - ao menos no mundo de robôs móveis - a bagatela de US$ 995. As máquinas serão entregues a partir de meados de 2014, com preço final de venda em torno de US$ 2 mil.

Os robôs oferecem várias possibilidades, disse Rogers, especialmente se custarem US$ 1 mil, e não US$ 16 mil. "Há muito potencial aqui para comunicações sociais que são cruciais para a qualidade de vida e o bem-estar", disse a professora, que garante não ter relações comerciais com fabricantes. Instituições religiosas poderiam ter os robôs à mão, por exemplo, de maneira que fiéis presos em casa poderiam participar de cultos de suas residências e televisitar outros fiéis depois.

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Os robôs também poderiam prestar serviço como cuidadores de idosos. "Se você tiver robôs móveis baratos em casas em que pessoas já os estão usando, existe a possibilidade de prender braços neles algum dia", disse Charles Kemp, professor e membro do Instituto de Robótica e Máquinas Inteligentes da Georgia Tech, que trabalha com alunos no programa de doutorado em robótica. Os robôs poderiam ajudar em tarefas como dobrar roupa e administrar remédios. "Vejo estes robôs de telepresença como um passo para termos máquinas capazes de oferecer atendimento personalizado 24 horas."

Saúde.

Apesar de o Beam+ ser voltado para consumidores, outro robô de telepresença foi colocado em operação por muitos hospitais e outras instituições de saúde, disse Ned Semonite, um executivo da VGo Communications, fabricante do robô. As máquinas VGo estão em operação, entre outros lugares, nos centros de saúde Kaiser Permanente, onde um ortopedista em viagem poderia usar um deles para acompanhar a condição de um paciente após uma operação de joelho. "O paciente está na Kaiser", disse Semonite, "mas o médico está longe."

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Mais de 100 VGo estão em uso em escolas, operados de longe por alunos presos em casa por doença. Os alunos podem guiar remotamente a máquina para assistir a aulas, interagir com colegas e até fazer visitas virtuais ao auditório ou ao ginásio - o robô só sobe escadas. A máquina custa US$ 5.995, mais uma taxa de assinatura mensal em torno de US$ 100.

Robôs de telepresença também estão aparecendo em escritórios, disse Frank Tobe, analista de robótica da revista The Robot Report. Normalmente, as máquinas são colocadas no local de trabalho, e contanto que o piso dos escritórios seja razoavelmente liso e o lugar tenha conexões interna e de internet decentes, qualquer executivo pode utilizá-las à distância, visitando colegas e participando de reuniões. A Suitable Technologies, por exemplo, faz o Beam Pro, um robô pesado projetado para corporações, com preços que começam em US$ 16 mil.

"Usar robôs em vez de reunir todas as pessoas para conferências, é um propósito de negócio válido", disse Tobe.

/TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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