PUBLICIDADE

Uma tradição de Natal, o panetone deu origem a um negócio de R$ 3 bilhões

Massa trazida ao Brasil há 70 anos pelo fundador da Bauducco ainda é origem dos panetones da marca; agora, empresa vive o desafio de se diversificar e buscar o mercado externo

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

Em 1948, um imigrante italiano chegava com a família ao Brasil carregando na bagagem o fermento que esperava ser seu sustento no novo mundo. O padeiro Carlo Bauducco percebeu que um produto tradicional na Itália, o panetone, não era consumido em São Paulo. O bolo de frutas seria seu diferencial. A esperança era de que o produto caísse no gosto dos brasileiros. Setenta anos mais tarde, seu neto Massimo é presidente da empresa que leva o nome da família – grupo que fatura R$ 3 bilhões ao ano, tem 6 mil funcionários e é a maior fabricante de panetone do mundo.

Funcionaria da Pandurata, grupo que engloba empresas da familia Bauducco, monitora saida de panetones de forno em fabrica da empresa em Extrema, interior de Minas Gerais. Panetones produzidos pela empresa usam ate hoje o mesmo fermento trazido pelo fundador da companhia Carlo Bauducco que chegou no Brasil em 1952 vindo da Italia que passa por processo de alimentacao para sua multiplicação Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

PUBLICIDADE

Até dezembro, deverão sair das linhas das três fábricas brasileiras da companhia 100% familiar – em Extrema (MG), Guarulhos (SP) e Maceió (AL) – 75 milhões de panetones e produtos derivados da receita original, como os chocotones. Todos são derivados do mesmo fermento, a “massa madre”, que Carlo trouxe na bagagem anos atrás.

Presente em quase todos os supermercados do País, pois é dona ainda das marcas Visconti e Tommy, a Bauducco também vem ampliando seu negócio de franquias, que hoje tem 80 lojas. Segundo Massimo Bauducco, a ordem é colocar o pé no acelerador. “Vamos chegar a 400 unidades em cinco anos”, adianta.

Para Cláudia Bittencourt, especialista em franquias, a Bauducco acertou ao criar uma linha de produtos separada para as lojas. “Foi uma forma de acompanhar a evolução do varejo e oferecer uma experiência mais sofisticada do que a que ele encontra no supermercado”, diz. A expansão cadenciada do negócio de franquias teve razão de ser, diz Massimo. O receio era “canibalizar” a operação do varejo de massa. 

Além de tentar “perenizar” o consumo de panetone por meio da Casa Bauducco, a empresa familiar também viu a necessidade de reduzir a dependência do produto principal. Ainda assim, um terço de seu faturamento – ou R$ 1 bilhão – vem dos produtos de Natal e Páscoa. 

É graças aos produtos sazonais, que a Bauducco lidera a categoria de bolos industrializados, que inclui panetones. Duas marcas da companhia – a principal e a Visconti – somavam 44% desse mercado em 2018, segundo a Euromonitor. A segunda colocada é a Bimbo – dos bolinhos Ana Maria – com 7,5%. Segundo a consultoria, apesar do aumento da concorrência, a Bauducco manteve sua posição ao longo da última década.

Diante da relevância dos panetones para o faturamento, o presidente da Bauducco admite que a empresa busca “esticar” as festas. Hoje, os produtos começam a chegar aos supermercados em setembro. Não muito depois de a empresa esvaziar o estoque de fim de ano, as colombas pascais já começam a aparecer nas gôndolas.

Publicidade

Outra saída para esticar o efeito natalino é criar em cima da receita de panetones – que hoje tem dezenas de variações. A receita original, aliás, corre o risco de virar coadjuvante do chocotone, que já tem fatia de mais de 40% nas vendas da linha. “É inevitável, vai acontecer”, diz o diretor de marketing da Bauducco, André Britto.

O chocotone é, aliás, criação de Massimo Bauducco. O neto do fundador teve a ideia enquanto fazia um trabalho da faculdade, em 1978. A criação logo chegou às gôndolas, lembra Massimo: “No primeiro teste, o chocolate derreteu. Entendemos que tínhamos de encapsular o chocolate. E deu certo”.

A Bauducco também deu seus primeiros passos no mercado internacional. Há 14 anos, a companhia iniciou uma operação nos Estados Unidos. O objetivo da companhia é vender 100 milhões de panetones em solo americano, segundo o presidente da Bauducco. A empreitada, porém, revelou-se muito longe das expectativas. Até agora, com fábrica em Miami, apenas 5 milhões de panetones são vendidos no país.

Para um novo projeto lá fora, a empresa elegeu um mercado que consome – e muito – seu principal produto. A companhia vai abrir uma unidade da Casa Bauducco no Peru e também distribuirá panetones no varejo. A escolha tem motivo: o país é o segundo maior consumidor per capita de panetones, atrás da líder Itália e à frente do Brasil, terceiro colocado.

PUBLICIDADE

Eterna massa

Na busca por diversificação, a Bauducco cresceu no setor de biscoitos – hoje responsável pela maior parte de sua receita – e chegou recentemente ao mercado de pães, com a marca Visconti. Agora, a Bauducco estreará nessa seara, mas com um diferencial: seus pães serão originados da massa madre original de Carlo Bauducco, a mesma que dá origem aos panetones da marca.

É um movimento necessário, aponta Cristina Souza, diretora executiva da GS&Libbra, consultoria em varejo. “As indústrias buscam multiplicar sua cobertura de categorias. A Bauducco está fazendo isso com pães, mas concorrentes como a Panco também buscam novas linhas – incluindo de panetones."

Publicidade

Passo-a-passo do panetone

  • Massa madre O fermento trazido há 70 anos da Itália é mantido refrigerado. Alimentado com água e farinha, fica em ‘berçários’ para descansar
  • Crescimento Depois de 27 horas, a massa está pronta para sair do ambiente protegido, crescer mais e receber novos ingredientes
  • Preparação Antes de seguir para a máquina que divide a enorme massa no tamanho do varejo, último ingrediente são as frutas cristalizadas
  • Forno e embalagem Após uma hora no forno e oito de descanso, o produto está pronto para ser embalado. O processo de fabricação dura 54 horas

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.