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Os testes terminaram. O estresse, não

Por Gretchen Morgenson
Atualização:

O começo do fim da crise bancária ou apenas o fim do começo? Isso é o que americanos curiosos querem saber após a declaração de que dez dos maiores bancos da nação precisam levantar US$ 75 bilhões até novembro para as autoridades reguladoras lhes conferirem um atestado de saúde. Bank of America, Wells Fargo, GMAC e Citigroup são as instituições mais necessitadas, segundo os aplicadores dos testes. Outros nove, incluindo Bank of New York Mellon e American Express, foram considerados mais saudáveis. "Os resultados devem proporcionar um alívio considerável para os investidores e o público", disse Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed), ao divulgar o resultado dos testes, na quinta-feira. Ele acrescentou que quase todos os bancos testados tinham capital suficiente para absorver prejuízos maiores que os previstos pelo Fed em seu "cenário hipotético adverso". Com quase 40 páginas de mapas, gráficos e cenários, o programa foi um "teste deliberadamente exigente", disseram seus autores. A mensagem que queriam enviar é claramente que a confusão bancária que enfrentamos nos últimos dois anos está se tornando administrável. Por mais que seja um alívio ir em frente, quem estiver interessado em conhecer bem a realidade ainda não pode concluir que esses bancos estão fora de perigo. Os testes não foram, de fato, excepcionalmente duros e alguns dos cenários "adversos" do programa parecem mais um dia na praia. "Não vamos chamá-lo de teste de estresse", disse Janet Tavakoli, fundadora da Tavakoli Structuree Finance, empresa de consultoria de Chicago. "Isso foi um teste para tentar obter uma medida da adequação de capital, usando porcentagens muito gerais. Acho que a expectativa deles é que os bancos vão ser capazes de ganhar dinheiro para sair do apuro." Alguns poderão consegui-lo, graças aos imensos subsídios que recebem do contribuinte. O dinheiro barato dos programas do governo se traduz em despesas deliciosamente baixas e o potencial de lucros onde, sem eles, só poderia haver prejuízos. Mas nem todos os bancos conseguirão ganhar o suficiente para se safar. E, apesar de não se saber por quanto tempo nossa economia permanecerá sob pressão, Tavakoli está segura de que as suposições de prejuízos nos casos piores dos testes dos bancos foram demasiadamente róseas. No cenário considerado adverso, por exemplo, os bancos podem sofrer prejuízos de 8,8% nos próximos dois anos com as primeiras hipotecas em seu poder. Uma cifra mais provável, diz Takavoli, é 10%. "Dado o que aconteceu com a economia e o desemprego, a inadimplência é maciça", disse ela. Os prejuízos recentes no portfólio da Fannie Mae respaldam essa opinião. No primeiro trimestre, seus empréstimos subprime mostraram perda média de 68%. O Fed espera prejuízos de 28% com empréstimos subprime em dois anos, na pior hipótese. Para investidores interessados num teste isento de influência do governo, a Institutional Risk Analytics, empresa de análise de bancos e gestão de risco, publicou sua avaliação da solidez de instituições financeiras na semana passada. Usando relatórios da Federal Deposit Insurance Corp. do primeiro trimestre de 2009, de 7.600 instituições, a análise mostrou que os bancos estão sob pressão crescente. Christopher Whalen, editor do Institutional Risk Analyst, disse que os dados informaram que os prejuízos bancários não atingiriam o pico antes do fim do ano. Antes de refinar os dados, ele achava que os prejuízos atingiriam os níveis mais altos no segundo trimestre. Whalen disse que alongou o prazo para a estimativa de pico dos prejuízos porque os bancos continuaram fazendo provisões maiores para perdas com empréstimos que os valores que estão dando baixa. "Ainda não vimos créditos em liquidação", disse ele. "Quando se vê bancos liquidando créditos, a conta de reserva terá terminado. Então se saberá que os problemas acabaram." Nesse ínterim, os subsídios dos contribuintes a bancos ajudarão a compensar parte dos prejuízos, disse ele. Mas manter taxas de juro no porão para recuperar bancos tem custos significativos, disse Whalen. Por exemplo, instituições que aceitaram pagar juros sobre investimentos superiores às taxas vigentes - pensem em companhias de seguros e planos de pensão - estão sendo aniquiladas. "O Fed não pode fazer isso por muito mais tempo", disse ele. O que é mais complicado, os custos dos bancos para se livrar de empréstimos ruins - sejam eles hipotecas ou dívidas de cartões de crédito -, estão subindo, disse Whalen. Em recessões anteriores, por exemplo, os investidores se adiantariam e comprariam dívidas ruins de cartões de crédito dos bancos. Sim, os preços que eles pagaram foram com desconto, mas ao menos os bancos poderiam dar baixa nos empréstimos e seguir em frente. Agora, porém, os compradores desses portfólios capengas são tão raros e os preços que eles pagarão tão baixos que os bancos estão contratando seus próprios especialistas treinados para recuperar o que puderem dos credores encrencados. Isso custa. É bom que o circo do teste de estresse tenha acabado. Mas duas lições permanecem. A primeira é que os efeitos de uma farra de dívida como a que acabamos de experimentar não podem ser eliminados de maneira rápida e indolor. A segunda é a questão do déficit de credibilidade do governo. Talvez US$ 75 bilhões sejam suficientes para tirar grandes bancos do atoleiro neste período difícil, mas será que alguns dos sujeitos que produziram essas estimativas não são os mesmos que nos garantiram que os empréstimos subprime não seriam um problema? Que, de fato, eles seriam "contidos"? São os mesmos, de fato. *Gretchen Morgenson é jornalista

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