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Otimismo cresce nos emergentes

Pesquisa realizada em 47 países mostra que melhorou a qualidade de vida nas nações em desenvolvimento

Por Brian Knowlton , The International Herald Tribune e Washington
Atualização:

Uma nova pesquisa concluiu que as pessoas dos países em desenvolvimento estão mais satisfeitas com sua vida do que há cinco anos, devido ao aumento de seus rendimentos em virtude de reformas e da globalização. Mas a pesquisa encontrou, também, um pessimismo substancial nas partes mais ricas do mundo, onde o poder de compra tem ficado estagnado. "Há um consenso entre a maioria das pessoas pesquisadas de que elas tiveram progresso pessoal", diz o relatório da Pew Research Center. "Em 36 dos 47 países pesquisados, uma maioria de entrevistados diz que estão num ponto mais alto na escada da vida do que estavam há cinco anos". Já nos Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão, grandes maiorias disseram que sua expectativa é que seus filhos enfrentem uma vida pior do que a que eles tiveram. Embora os americanos sejam os mais otimistas do Ocidente desenvolvido, apenas pouco mais da metade espera estar com sua vida pessoal melhor em cinco anos. Outra descoberta da pesquisa foi que o apoio ao terrorismo continua em abrupto declínio nos países predominantemente muçulmanos, embora permaneça extremamente alto, em 70%, nos territórios palestinos. O apoio a Osama bin Laden caiu drasticamente, despencando no Líbano de 20% em 2003 para 1% agora. Entre outras descobertas da pesquisa estão: os chineses pesquisados expressaram um alto grau de satisfação com seu governo, embora a satisfação pessoal continue baixa. Os Estados Unidos, ainda altamente polarizantes, foram citados freqüentemente pelos países tanto como o aliado mais próximo, como também a maior ameaça. Profundas diferenças atravessam a Europa, com o suecos entre os povos mais satisfeitos do mundo e os búlgaros ocupando quase a extremidade inferior dos mais pessimistas globais. No total, foram entrevistadas 45.239 pessoas em 47 países de meados de abril ao início de maio. As margens de erro variaram de 2% a 4%. O levantamento confirmou o óbvio - que, no geral, as pessoas cujos rendimentos estão subindo estão mais contentes e apóiam mais seus governos (os mais satisfeitos estão na Ásia - China, Malásia e Bangladesh.) E ressaltou que as expectativas de uma vida melhor podem ser mais importantes do que números absolutos relativos à renda. INSATISFAÇÃO Entre os entrevistados mais insatisfeitos estão os franceses e os italianos - ricos pelos padrões mundiais, mas sofrendo de mal-estar econômico e político. Pessoas de países em ascensão como o México ficaram entre as mais otimistas. De fato, foram os mexicanos que colocaram a si mesmos lugares mais alto na "escada da vida" do que qualquer outra nacionalidade. "Existe uma boa correlação como as pessoas classificam sua vida e o PIB (ou produto interno bruto) absoluto, disse Andrew Kohut, presidente do Pew Research Center. Os resultados foram "um testemunho de como as economias globais estão afetando a vida das pessoas de uma forma positiva", disse Kohut. "A satisfação pessoal é bem alta nos países latino-americanos", que tomados coletivamente foram do crescimento zero no período anterior de cinco anos para 18% nos últimos cinco anos. A China apresentou de longe o maior crescimento econômico em todos os países pesquisados, com uma PIB per capita de 58% desde 2002. Isso foi traduzido numa satisfação muito maior com as condições nacionais - 83%, enquanto esta porcentagem era de 48% em 2002. E o apoio ao governo, de 89%, foi o segundo maior de todos, perdendo apenas para a Malásia, onde chegou a 92%. Bates Gill, um especialista em China do Center for Strategic and International Studies (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais) de Washington, disse que os altos níveis de apoio ao governo chinês coincidem com os resultados de pesquisas de opinião anteriores, mas que devem ser encarados com cautela. "A pesquisa de opinião é um fenômeno relativamente novo na China", diz. "E suponho que os chineses ainda não assimilaram completamente a idéia de anonimato e de confiança de que as "respostas ruins" não serão divulgadas. As pessoas se autocensuram". Mesmo assim, somente 34% dos chineses disseram estar satisfeitos com sua vida. Está faltando otimismo em alguns países desenvolvidos. No Japão, o número de entrevistados que disseram que a vida será pior para a próxima geração foi sete vezes maior do aqueles que disseram que será melhor. A mesma proporção prevaleceu na Itália. França e Alemanha não se mostraram muito mais otimistas. Os resultados são um reflexo da natureza humana, disse Jagdish Bhagwati, um economista que trabalha no Council on Foreign Relations (Conselho sobre Relações Exteriores). "Se você teve uma experiência boa, tende a extrapolá-la para o futuro e se teve uma experiência ruim, se torna um pessimista". Entre os efeitos animadores da globalização, está o fato de que mesmo um sopro de oportunidade pode ajudar, disse ele. Num dos países mais pobres do mundo, Mali, nove entre dez pessoas esperam que sua vida melhore nos próximos cinco anos. As opiniões mais desalentadoras vieram de duas populações sacudidas pela violência - os libaneses e os palestinos. Somente cerca de 1 em cada 20 dos entrevistados manifestou satisfação com as condições de seu país. TERRORISMO No geral, o apoio ao terrorismo vem caindo sistematicamente. Em 16 países muçulmanos ouvidos, a maior parte da população disse que os atentados suicidas raramente ou nunca podem ser justificados. No Líbano, 34% da população apóia os atentados suicidas, às vezes ou freqüentemente, se for "em defesa do islamismo", porém isso representa uma queda em relação aos 74% constatados em 2002. Entre os jordanianos, 23% apóiam tais bombardeios, uma queda em relação aos 43% anteriores. O apoio no Paquistão caiu de 33% para 9%. Todos esses povos têm sido alvos de homens bomba. Na Jordânia, onde em 2003 mais da metade dos entrevistados expressaram confiança em Osama bin Laden, esse apoio caiu para 20%. Porém, os palestinos se destacaram - 70% deles disseram apoiar os atentados a bomba às vezes ou freqüentemente e somente 6% disseram que nunca são justificados. Os eventos deixaram os Estados Unidos com uma imagem profundamente contraditória. Pessoas de 19 países os citaram como o aliado mais confiável, enquanto pessoas de 17 outros países - particularmente de países muçulmanos e também da China - consideraram os EUA como sua principal ameaça. Os nigerianos os consideram ambas as coisas. Problemático para os Estados Unidos é o fato de que as opiniões negativas cresceram na Turquia, um aliado próximo preocupado com os eventos no Iraque. Agora, 77% dos turcos encaram os EUA como uma ameaça. Maiorias da Europa Oriental, Canadá e Estados Unidos, assim como de Israel e Kuwait, indicaram o Irã como a maior ameaça em potencial. O crescente cacife político da União Européia foi refletido no fato de que povos de cinco países a indicaram como sua aliada mais próxima.

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