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Otimismo de Mantega é desmentido pelos mercados

Sem dúvida, uma hora os mercados vão se acomodar, mas nove entre dez analistas não arriscam quando isso acontecerá

Por Agencia Estado
Atualização:

Ao comemorar ontem a redução do nervosismo nos mercados - momentânea, como se viu no final da mesma tarde - o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assumiu um risco que nem mesmo os mais otimistas dos investidores ou analistas têm coragem de expressar neste momento. Sem dúvida, uma hora os mercados vão se acomodar. Mas nove entre dez analistas não arriscam quando isso acontecerá e apostam em mais volatilidade (oscilação) pelo menos no curto prazo. Como os próprios investidores admitem, os mercados abandonaram seu "otimismo irracional" e iniciaram uma era de incertezas - cenário mais temido pelos investidores. A atenção continuará concentrada nos indicadores dos Estados Unidos, que mostrarão qual o comportamento da inflação e as perspectivas para os juros. O índice PCE, que mede o gasto do consumo pessoal e é muito importante nas decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), será divulgado na próxima quinta-feira e é aguardado com ansiedade. Um resultado que sinalize uma inflação contida, sem necessidade de se apertar mais os juros poderá resultar numa maior serenidade nos mercados, inclusive engrenando uma valorização nas bolsas, preços das commodities e ativos de países emergentes. Entretanto, um dado considerado negativo poderá gerar mais um ensaio de pânico nos mercados globais como o visto na segunda-feira passada. Reversão Mas nem mesmo um PCE positivo será capaz de reverter de uma forma sustentada o novo ambiente que se instalou nos mercados mundiais. Novos indicadores da economia norte-americana, européia e japonesa serão recebidos nas próximas semanas num ambiente de tensão que tende a maximizar movimentos negativos. O diretor da corretora de fundos hedge Liabilites Solutions, Wilber Colmerauer, observa que os tempos mudaram. Num longo período, que se estendeu por mais de três anos e foi encerrado há duas semanas, os mercados vinham mostrando um otimismo inabalável e rapidamente ignoravam dados ou notícias preocupantes. "Agora, veremos o contrário, com o mercado reagindo exageradamente a dados ruins", disse. "Esse comportamento ciclotímico é da natureza dos mercados, mas muita gente tinha esquecido disso por causa dos bons ventos que sopraram nos últimos anos." Fundos de pensão A fuga de fundos de pensão, seguradoras e outros investidores dos ativos de maior risco é explicada pela perspectiva de um aumento dos juros nos Estados Unidos e outros países ricos. Com os juros norte-americanos superando os 5%, a atratividade dos retornos mais graúdos em muitos emergentes já não supera o estoque de incertezas da economia global. "Tem muita gente que ganhou no primeiro trimestre 15%, 20%, 30% com os emergentes, o que é muito expressivo, e diante do que está acontecendo resolveu tirar o time de campo e colocar seu dinheiro em ativos mais seguros, garantindo um resultado ainda positivo para o ano como um todo", explicou Colmerauer. "Se houver sinais de que o Fed terá que levar os juros para mais perto dos 6%, aí então esse movimento será ainda mais acentuado." Uma hora a poeira nos mercados baixará, mas poucos acreditam que os ativos de países emergentes recuperarão todas as perdas sofridas nas últimas semanas. Está em curso um ajuste, que muitos esperavam gradual e indolor, ao novo estado da economia mundial. Brasil Muitos analistas avaliam que o Brasil continua sendo um dos países mais atraentes devido aos seus juros elevados - e cuja queda deverá ser desacelerada por causa da turbulência global - e seus fundamentos econômicos. "Nada mudou no Brasil nas últimas duas semanas que justifique essa desvalorização dos ativos do país, como no real", disse a estrategista do fundo Insight Investment Ingrid Iversen. "Por enquanto, os fatores técnicos do mercado e o nervosismo estão imperando sobre os fundamentos dos emergentes." Até quando isso vai acontecer, acrescenta Ingrid, ninguém sabe. Mas é certo que a partir de agora os investidores vão estar muito mais atentos aos passos e sinalizações do governo na área fiscal, cambial e a eventuais incertezas em torno das eleições de outubro. Como ironizou um estrategista de um banco norte-americano, "antes todo mundo comprava os emergentes com os olhos vendados, mas a partir de agora o equipamento mais popular será a lupa."

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