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Paciente de planos vive mais que o do SUS

Acesso a medicamentos inovadores está por trás da chance de viver até 3 anos mais

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:

Com o atraso na incorporação de drogas inovadoras à lista do SUS, o paciente com câncer tratado na rede privada pode ter a chance de viver de dois a três anos mais do que um doente atendido na rede pública. Essa foi uma estimativa feita pelo oncologista Carlos Barrios, do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, ao comparar resultados de diferentes terapias indicadas para câncer de mama metastático.Em sua apresentação no Fórum Estadão Saúde, o especialista mostrou que enquanto a quimioterapia tradicional oferecida para pacientes da rede pública com esse tipo de tumor dá sobrevida de 20 meses, o tratamento associado a outras drogas mais modernas promove ganho de 56 meses, cerca de dois anos mais. "Não defendo que a Conitec incorpore uma droga de alto custo que dê sobrevida de um, dois meses. Mas nesses casos estamos falando de anos", disse o oncologista.O tumor de mama é o tipo mais prevalente entre as mulheres, depois do câncer de pele não melanoma. Somente neste ano, 57 mil mulheres deverão receber o diagnóstico da doença no País. Quase metade das brasileiras descobrem o tumor já emk fase avançada.Oncologista no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), da rede pública estadual, e no Hospital Sírio-Libanês, Max Mano disse que as diferenças entre os setores público e privado são gritantes, não só no tratamento, mas também no diagnóstico. "Quando saio do serviço público e vou para o meu consultório particular, parece que mudei de País", relatou. Hoje, o rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) obriga os planos de saúde a cobrirem mais drogas oncológicas do que as incluídas na lista do SUS.O especialista afirma que a dificuldade de acesso se dá não só na questão dos medicamentos inovadores, mas também em exames mais básicos de detecção de câncer, como a mamografia, e em tratamentos tradicionais contra a doença, como a radioterapia. De acordo com dados apresentados por Mano, 40% dos pacientes que precisam desse tipo de tratamento não conseguem ter acesso a ele.Mano afirmou que o Brasil conta hoje com 283 unidades de saúde habilitadas em oncologia, quase metade delas (135) na Região Sudeste. Na Região Norte, por exemplo, só tem dez desses centros.Polêmica. Os especialistas em oncologia presentes no fórum demonstraram preocupação com a posição da ANS em considerar as avaliações da Conitec como um dos principais critérios de incorporação de um medicamento na lista de cobertura obrigatória dos planos. Conforme revelado pelo Estado na semana passada, pela primeira vez, a agência decidiu retirar um medicamento do seu rol de procedimentos após a Conitec decidir pela não incorporação do produto na lista do SUS."Deu um pânico a ANS usar como base a Conitec. O que todos esperavam é que o sistema público fosse melhorado para ficar mais próximo do privado, mas parece que estão fazendo o contrário, reduzindo a cobertura para ficar tudo pior", disse Max Mano.

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