15 de janeiro de 2021 | 08h17
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, cumpriu sua promessa de campanha e anunciou na noite de quinta-feira, 14, suas propostas de estímulo para embalar a recuperação da economia americana.
Batizado de Plano de Resgate da América, o novo pacote fiscal soma US$ 1,9 trilhão, cerca de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, e traz medidas de apoio direto aos mais afetados pela crise da covid-19. Entre elas, o aumento dos chamados cheques de estímulo econômico - aos moldes do auxílio emergencial brasileiro - de US$ 600 para US$ 2 mil. Análises consultadas pelo Estadão/Broadcast, porém, apostam que o projeto terá de ser enxugado para garantir aprovação no Congresso, apesar do democrata ter conquistado maioria na Câmara e no Senado.
Na avaliação da Capital Economics, qualquer pacote aprovado pelo legislativo terá metade do tamanho anunciado ou menos. "É difícil imaginar que haja votos suficientes no Senado para US$ 350 bilhões em ajuda para governos estaduais e locais", diz o economista-chefe da consultoria, Paul Ashworth, que também vê dificuldade em dobrar o salário mínimo pelo impacto na contas públicas dos Estados.
Para o Danske Bank, as obstruções devem levar o pacote a ser enxugado para US$ 1 trilhão, de forma a garantir uma aprovação rápida e atender as necessidades da economia local no curto prazo.
O ING diz que o pacote fiscal testará a capacidade de negociação de Biden, que terá de dialogar com a base e a oposição em meio ao julgamento do processo de impeachment de Donald Trump. "A questão do impeachment pode atrasar a ação dos congressistas sobre o pacote e, no mínimo, aumentar as tensões no Capitólio", avalia o banco holandês. A elevação de repasses a estados e municípios também deve enfrentar resistências, lembra a instituição, tal como foi no governo Trump.
Biden não propôs elevação de impostos na noite de ontem - sem aumento de arrecadação, o programa terá de ser financiado com mais emissão de dívida. Como mostrou o Broadcast, embora amplamente apoiada pelo mercado, que vê a política fiscal expansionista como a única saída em um contexto de juro básico na faixa entre 0% e 0,25% ao ano, a ampliação de gastos sob o governo democrata deve pressionar ainda mais as contas públicas nos EUA, acendendo alerta sobre a trajetória da dívida pública na maior economia do mundo, já em 130% do PIB.
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