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Pacote é alternativa à estatização

Detalhes do plano de Geithner afastam por enquanto o temor de soluções radicais temidas pelos investidores

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Por Fernando Dantas
Atualização:

O mercado respirou aliviado ontem, com o sinal de que o governo americano finalmente fez uma opção firme sobre a direção a tomar para superar a gravíssima crise financeira, optando por uma solução de mercado e não estatizante para lidar com o problema trilionário dos ativos tóxicos. "Havia uma crítica de que faltava diagnóstico, ação e consenso político, e hoje nós começamos a ver algum movimento, o que é positivo", analisou Beny Parnes, diretor-executivo do Banco BBM e ex-diretor do Banco Central (BC). Ele ressalva, porém, que "o problema é complexo e de solução muito demorada". Para Parnes, ainda não está claro se a velocidade de execução do plano, se ele tiver de fato a adesão do setor privado, será suficiente para conter a queda na economia real. Há quase um consenso entre economistas e participantes do mercado de que o problema dos ativos tóxicos - rebatizados como ativos "legados" ou "herdados" (o que significa o rescaldo ruim do passado recente) - é o principal nó da crise global. "Este plano revela os preços (dos ativos) e injeta liquidez nos bancos, com um pouco de incentivo aos investidores (privados)", diz o economista Otaviano Canuto, que está em transição de uma vice-presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para uma do Banco Mundial. O plano de Geithner é criar vários fundos que disputarão as carteiras de crédito e os títulos de securitização de crédito considerados tóxicos. Esses fundos serão parcerias público-privadas, em que o investidor e o Tesouro dividem o capital em 50%. O detalhe crucial, porém, é que, para comprar os ativos tóxicos, no caso das carteiras de crédito, o investidor recebe empréstimos do governo garantidos pela Corporação de Seguro de Depósito Federal (FDIC, na sigla em inglês). No exemplo do próprio Tesouro, o investidor que arriscar US$ 6 poderia alavancar, em parceria com o Tesouro, US$ 84. Mas perderá, no máximo, os US$ 6 iniciais. "Se o fundo perder tudo, US$ 72 serão prejuízo do contribuinte", explica um analista de banco. Essa abordagem, em que o governo estimula o próprio setor privado a comprar os ativos tóxicos, tira de cena - pelo menos por enquanto - as hipóteses de nacionalização ou da formação do chamado "banco ruim" ou "agregador", onde seriam jogados todos os ativos podres. Tanto num caso como no outro, é provável que os credores dos bancos tivessem perdas ou fossem forçados a converter os créditos em capital (o que também prejudica os acionistas atuais, pela diluição). A circulação dessas hipóteses de uma abordagem mais traumática da crise bancária pelo governo Obama, nos últimos meses, é um dos fatores que explicam a queda das ações dos bancos a níveis ínfimos.

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