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Pacote não atrai investimento

Por ALBERTO TAMER
Atualização:

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nesta semana um novo pacote de estímulo econômico. É bom, mas tudo indica que é pouco porque repete com ligeiras mudanças as medidas adotadas antes que trouxeram o Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre para 0,6% e o ano terminando em torno de 1%. O governo previa 4%. Perdeu-se um ano inteiro e, a não ser que algo mais agressivo seja feito, corre-se o risco de perder 2013 também.O novo pacote, que se baseia da renovação de corte de impostos para alguns setores, principalmente automobilístico e desonerações, pode estimular mais o consumo, já elevado, sem pressionar a inflação, pois reduz os preços dos produtos beneficiados, mas não incentiva. Não atrai investimentos. Quando muito, lidera estoques. Ele traz em si um pecado mortal: todos os incentivos têm prazos relativamente curtos de duração, vencem alguns meses e se promete, como se faz agora, renová-los. Investimentos. Mas os investimentos em produção, produtividade, inovação em fábricas, máquinas e equipamentos têm retorno longo. Nos últimos meses, as indústrias não só deixaram de comprar máquinas equipamentos fabricados no País, como reduziram suas importações também apesar dos preços menores. E máquinas e equipamento é o fator decisivo de produção, que recua. E os empresários hesitam não só pelo clima externo e a retração interna, mas pela incerteza quanto as próximas ações da equipe econômica. E, sem investimentos, a economia continuará sendo sustentada pela demanda interna que, mesmo forte, está mostrando que não será suficiente para chegar aos 4% que o governo pretende no próximo ano. O mercado fala em 3,3%, mas só se muito mais for feito de forma consistente e duradoura. Ninguém investe no provisório, no que vai durar meses mesmo com promessa de renovação. O que está acontecendo é prova disso. Os investimentos recuaram e, se nada mais for feito, poucos acreditam que venham a crescer 8% no próximo ano, como prevê o governo. Falta mais certeza. É isso o que afirmaram nesta semana os analistas, em uma espécie e rara unanimidade. Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro, diz que foi necessário um período de acomodação à desvalorização do câmbio e à redução dos juros porque, a princípio, essas alterações são artificiais e, portanto, temporárias. "Hoje, parece um movimento mais estrutural, mais realista em relação ao praticado no mundo. No entanto, é necessário um período até que se concretize a percepção de que essas mudanças vieram para ficar,"diz ele ao Valor. Enquanto não surgem mais sinais concretos do governo, os empresários continuam aguardando. Para Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores, os sinais emitidos pelo governo em relação aos próximos passos na condução da politica econômica continuam contraditórios. A estratégia do governo não está clara e nem é certo que quando os rumos ficarão mais previsíveis, haverá um boom de investimento que o governo estima, diz ele também aos colegas do Valor.Não esclareceu. E o pacote desta semana não deu sinais sobre o que a equipe econômica pretende fazer. Ele apenas mantém uma situação de semiestagnação econômica, com o PIB de 0,6%, sem mudança - porque no fundo o pacote é o mesmo do passado - e, acima de tudo, sem sinais sobre os novos passos. O ministro Guido Mantega limitou-se a afirmar que novas desonerações virão. Foram R$ 45 bilhões este ano e em 2013 serão R$ 40 bilhões. E podem ser ainda maiores, acrescenta ele, repetindo, na verdade, o que havia dito no pacote anterior. Mesmo assim, o "fantasma" do 0,6% está aí. Fala-se em 0,8% no último trimestre. Não muda muito o cenário geral de uma economia crescendo em torno de 1% quando se previa no inicio do ano 4%. E fica a pergunta para Brasília responder: 2012 teria que ter sido mesmo um ano perdido? O que deu de errado? E o que se pensa em fazer para corrigir isso? Mais estímulo a uma demanda interna que continua crescendo? Mais desonerações e reduções temporárias e tópicas de imposto? A verdade é que ninguém sabe de nada. E, enquanto isso, os empresários ficam esperando. E não investem.

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