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''Pagava até gorjeta com recursos emprestados''

Por Fernando Nakagawa e BRASÍLIA
Atualização:

"Iria sair de férias e queria muito viajar. Mas não tinha como pegar dinheiro no banco porque já tinha usado todos os limites nas várias contas. Estava totalmente sem crédito. Então, não pensei duas vezes: peguei dinheiro com um agiota e fui para Nova York. Na volta, trouxe até alguns presentes". A viagem aos Estados Unidos de Marisa foi inesquecível. Dez anos atrás, pela vista de Times Square e as lojas luxuosas de Manhattan, hoje, por outro motivo. Essas férias são como um marco do descontrole financeiro que começou com o uso incondicional do limite do cheque especial e do cartão de crédito. Marisa é uma típica senhora de classe média paulistana. Casada, trabalha e possui vida financeira própria. Mas há pouco mais de uma década, após um problema pessoal, começou a elevar os hábitos de consumo. Um restaurante caro em uma semana, uma viagem de última hora dez dias depois, várias sacolas após uma passada rápida no shopping e assim começou o inferno financeiro dessa senhora que atualmente colabora em uma das duas reuniões semanais do Devedores Anônimos (DA), grupo de ajuda nos moldes dos Alcoólicos Anônimos. Em pequenas reuniões, o grupo oferece ajuda a quem perdeu o controle. Em geral formado por pessoas de classe média, tem integrantes de todas as idades e várias profissões. Curiosamente, chama a atenção o número de servidores públicos. Para os veteranos do DA, a segurança de bons salários e a estabilidade fazem com que essas pessoas ousem mais. "Comecei usando o cheque e o cartão. Depois, passei a tomar crédito pessoal. Quando esses limites estavam tomados, abria conta em outro banco para fazer tudo de novo. Cheguei a fazer isso em cinco, seis bancos. Depois, deixei estourar tudo porque achava que quanto mais longa e maior a dívida, maior seria meu poder de barganha". A situação só mudou há nove anos, quando ela passou a frequentar o DA. Primeiro, colocou no papel o que recebia por mês e tudo o que devia. "Incrível porque em uma hora tinha um plano de ação." Começou a renegociar as dívidas que tomou "emprestando" o nome de terceiros, como a mãe. Depois, passou para os débitos próprios e começou a pagar cheques devolvidos. Algumas folhas estavam centenas de quilômetros, de Porto Alegre ao Rio de Janeiro. Foram cinco anos até que Marisa voltasse ao azul. Solvente, como dizem os integrantes do DA. "Hoje, tenho uma vida absolutamente condizente com o que ganho. Não me privo de nada. Antes ia cinco, seis vezes por mês jantar fora, agora vou apenas uma. Mas vou pagando do meu bolso. Naquela época, até a gorjeta era com dinheiro emprestado. Hoje, a comida está mais gostosa". O nome Marisa é fictício e foi trocado a pedido da entrevistada. Informações sobre as reuniões do DA nos telefones (011) 3751-5763 e 4508-5633.

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