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País cresce em 2008 por ''''efeito inercial''''

Crise dos EUA não terá tempo de estragar crescimento do ano que vem

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

O governo segue apostando em um crescimento econômico de 5% no ano que vem, conforme previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Será 5%, talvez um pouco menos, mas perto de 5%", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A estimativa coincide com a da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e está próxima dos 4,4% previstos pelo mercado, conforme a pesquisa Focus feita pelo Banco Central, na qual são consultadas cerca de 100 instituições financeiras. Não será, porém, um ano fácil. A crise de crédito nos Estados Unidos, cuja extensão e reflexos sobre o Brasil são desconhecidos, é a maior fonte de insegurança sobre o futuro da economia. Dependendo de sua extensão, o crescimento de 2007 e 2008 pode se revelar mais um "vôo de galinha". Além disso, a alta da inflação nos preços dos alimentos no mundo e no País coloca no horizonte o risco de uma elevação da taxa de juros no ano que vem. Em parte, a confiança dos economistas numa taxa de crescimento forte no próximo ano é baseada no princípio físico da inércia. "Não vai dar tempo de a crise estragar o crescimento de 2008", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. "Quando se cresce mais do que 5%, no ano seguinte já se tem garantido um crescimento de pelo menos 3%, só pelo efeito estatístico." Segundo Flávio Castelo Branco, coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, o crescimento econômico de 2008 será parcialmente puxado pelo "efeito inercial" do forte desempenho deste ano. A maior garantia de uma economia aquecida no ano que vem é a força do mercado interno, a exemplo do que se viu neste ano. A inflação baixa, os juros em queda e o crediário com prazos mais longos vêm estimulando o consumo. Mas, ao contrário do que se viu logo após o Plano Real, por exemplo, quando houve uma onda consumista semelhante, desta vez os brasileiros estão conseguindo pagar as prestações. Os índices de inadimplência estão em queda, porque a renda média está em crescimento e o desemprego diminuindo. Por causa desse cenário positivo, a CNI projeta um crescimento de 6,2% no consumo das famílias em 2008. Para dar conta de toda essa demanda, as indústrias planejam investir 14% mais do que em 2007, um ano que já foi forte em termos de expansão da capacidade instalada. De janeiro a outubro deste ano, o consumo de máquinas pesadas aumentou 18,8%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essas evidências de fortalecimento do parque produtivo nacional é que animam economistas a falar em um ciclo sustentado de crescimento econômico. AMEAÇA A manutenção desse ciclo, porém, não é algo garantido. "Um risco é a infra-estrutura, que começa a ficar tencionada", disse Flávio Castelo Branco. "O PAC precisa dar resultados, para continuar a estimular os investimentos privados." Ele observou que a regulação em torno de projetos de infra-estrutura continua sendo um problema. "A questão ambiental continua algo complexo e demorado", disse Castelo Branco Para Gonçalves, do Banco Fator, há outro ingrediente de risco: a possibilidade de elevação das taxas de juros em 2008. A inflação nos preços dos alimentos, explicou ele, persiste em todo o mundo e tem reflexos no Brasil. "Não vejo como esse problema possa se perpetuar, mas acho que o Copom (Comitê de Política Monetária, que fixa a taxa de juros) está numa situação complicada", afirmou Gonçalves. "Não está claro se é questão de aumentar a taxa de juros." O economista disse que, até pouco tempo atrás, achava que as taxas de juros ficariam estacionadas nos atuais 11,25% até abril e depois cairiam. "Agora, acho que tem possibilidade de aumentar, se tudo continuar como está." Por essas razões, o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, acha que as restrições ao crescimento da economia brasileira em 2008 são internas, e não a crise externa. "Acabamos o ano de 2007 com mais inflação, mais riscos de gargalo, menos folga e mais uso de fatores do que quando começamos", disse Montero. Na sua avaliação, essas são indicações que que a economia brasileira cresceu, em 2007, acima do que permitia sua estrutura. Para o economista da Convenção, "a não ser que o crescimento potencial tenha acelerado substancialmente estamos fadados a crescer menos em 2008." A maior incógnita, porém, está no cenário mundial. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse na última quinta-feira, em reunião na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que os analistas de mercado calculam que o risco de a economia norte-americana entrar em recessão está entre 30% e 50%. "Em havendo (recessão), a questão é sua extensão", afirmou Meirelles. "Não há dúvida de que impactará a economia mundial." Meirelles, porém, procurou tranqüilizar os senadores ao afirmar que o Brasil será menos afetado do que nas crises dos anos 90. Entre outras razões, porque o mercado interno forte garantirá a manutenção do crescimento econômico. Além disso, o País tem hoje reservas internacionais na casa dos US$ 180 bilhões e o Brasil tem um tratamento diferenciado na visão dos investidores internacionais: a taxa de risco é menor do que a média.

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