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País depende cada vez mais de térmicas, mostra estudo

Por Alaor Barbosa
Atualização:

O País está dependendo cada vez mais das usinas térmicas movidas a gás natural para não ter problemas de oferta de energia elétrica nos próximos anos. Sem essas usinas, o País corre risco de ter déficit acima dos níveis tolerados pelo governo já a partir de 2008, especialmente na região Sudeste, conforme estudo elaborado pela titular da Secretaria de Saneamento e Energia de São Paulo, Dilma Seli Pena, que foi preparado para a reunião dos secretários estaduais de energia realizados na última segunda-feira, no Rio. No estudo, a que a Agência Estado teve acesso, Dilma calcula que sem as térmicas da Petrobras o risco de faltar energia subirá do patamar de 3% de possibilidade na região Sudeste para 11% em 2008, mais do que o dobro dos 5% admitidos pelo governo. Para 2009, o risco subiria da faixa de 6% (com as térmicas funcionando), para 20% se as térmicas não forem acionadas. Nos anos seguintes, os riscos seriam maiores ainda, passando de 7% em 2010 (sem térmicas) para 24 % (com térmicas) e para 10% em 2011 (com térmicas) ou para 34% (sem térmicas). Como o Sudeste responde por dois terços da capacidade de geração elétrica no País, qualquer problema na região afetará também os outros submercados (Sul, Nordeste e Norte), já que reduz a possibilidade de transferência de energia entre as regiões. Com isso, o País ficaria dependente cada vez mais da quantidade de chuvas nos próximos anos. Se houver seca em um único ano, os riscos crescerão exponencialmente. A possibilidade de usar as usinas térmicas movidas a gás natural é um assunto polêmico no governo, já que não há gás para toda a demanda. Se houver aumento para as térmicas, a Petrobras terá de reduzir a oferta para outros consumidores, especialmente a indústria, ou até para os motoristas que converteram os seus veículos para gás natural veicular (GNV). No Rio, o pólo gás-químico de Caxias, que tem a participação da Petrobras, não está conseguindo ampliar a sua produção devido à falta de gás. Na reunião de segunda-feira, os secretários estaduais manifestaram o seu receio de que o governo obrigue a Petrobras a redirecionar todo o gás para as térmicas, cortando o fornecimento para as distribuidoras estaduais. Aumento de volume Em maio, a Petrobras assinou acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) elevando a capacidade de fornecimento de gás para as térmicas em volume crescente. O volume inicial subiria de 2.200 MW médios este ano (cerca de 8 milhões de metros cúbicos diários de gás), para 3.907 MW médios no primeiro semestre de 2008 e em ritmo crescente, atingindo 6.737 MW médios em 2010, ou o equivalente a 30 milhões de metros cúbicos diários de gás, que é semelhante ao volume total importado da Bolívia. Só que já no mês passado, quando a Aneel fez testes para saber da disponibilidade efetiva do gás para as térmicas, a Petrobras não entregou a quantidade de energia prevista, o que levou a agência reguladora a multar a empresa. A Petrobras não aceitou a multa da Aneel e informou que vai recorrer da penalidade. Em julho, por determinação do governo federal, o Brasil ampliou a quantidade de energia exportada para a Argentina, sendo cerca de 1.000 MW de forma direta e outros 300 MW equivalentes através da liberação de gás natural boliviano, que deixou de vir para o Brasil para ser redirecionado à Argentina. Parte dessa energia foi fornecida a partir de térmicas movidas a gás natural.

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