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País deve aproveitar retomada na Ásia

Por Alberto Tamer
Atualização:

O crescimento da Ásia, nos dois primeiros trimestres,não surpreende, mas impressiona. A reação já vinha sendo sentida há alguns meses e agora se confirma. O Produto Interno Bruto (PIB) da China, Indonésia, Coreia do Sul e Cingapura registraram alta media anualizada, em julho, de 10%. Estima-se que, neste ano, a economiana região crescerá no mínimo 5%. E isso enquanto os países industrializados podem registrar uma queda de 3,5%. O Japão, segunda economia mundial, deu nesta semana sinais de tímido ressuscitar - viva, viva, após mais de uma década! -, mas ninguém acreditou muito. Seu PIB já afundou 14% e a produção industrial nada menos que 23%. O mesmo acontece com o relativo entusiasmo da França e da Alemanha: cresceram 0,3% no trimestre. Tecnicamente, saíram da recessão, mas continuam ainda patinando nela. Neste ano, o PIB alemão ficou negativo (-5,9%), a produção industrial também (-18%). Se sair da recessão é isso, crescimentp de 0,3% em um trimestre, não sei o que é... Além disso, na zona do euro, como um todo, o PIB está despencando 4,4% neste ano e a produção industrial, 17%. NADA DE FESTA Digo isso, cansando o leitor com dados excessivos, para mostrar que à exceção dos países emergentes da Ásia, da Índia e do Brasil, a economia mundial ainda vive em clima de recessão Como esta coluna tem sempre afirmado, se economia passa de menos 0,5% para mais 0,5%, continua na mesma. Está mal. A Europa está mal, os Estados Unidos estão mal. Só Brasil, India, China e os outros emergentes asiáticos é que estão bem. Portanto, nada de festas com esse pífio 0,3% da França e da Alemanha e, muito menos, com os 0,9% do Japão. ESTAMOS APROVEITANDO Mas se eles estão bem, vale perguntar estamos estimulando nosso comércio e exportando mais? Estamos, por acaso, fazendo acordos se o eterno Itamaraty deixar? Sim, respondo, mas quase estava dizendo mais ou menos. Um sim bem grande porque, como lembra à coluna o secretario de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, de janeiro a julho deste ano, as exportações para os países asiáticos, como um todo, aumentaram 8,8% em relação ao mesmo período de 2008. Ficaram em US$ 22,6 bilhões. Isso enquanto as exportações totais do Brasil registravam uma queda de 23,8%. Ou seja, os países asiáticos, principalmente os emergentes do Leste, estão nos ajudando muito a enfrentar a forte retração do mercado mundial. Estamos conseguindo navegar bem em meio ao furacão. Basta ver que, mesmo na crise, a participação da Ásia nas exportações brasileiras passou de 18,7% no primeiro semestre do ano passado para 26,9% neste semestre! E, registre-se, com louvor, o trabalho que o Ministério do Desenvolvimento vem fazendo, nessa área. Tem sabido aplicar as medidas de estímulo financeiro do governo ao setor externo, que supriram os recursos que deixaram de vir do exterior. LIMITAÇÕES Mas há duas observações a fazer. Primeiro, nossa participação no mercado - repito, o único que cresce no mundo -, ainda é modesta. Nós representamos apenas 0,9% do que eles importam e 1,5% do que exportam. Sim, é isso. Eles são importantes para nós. Não somos importantes para eles. É pouco e poderia haver ainda um grande espaço a ocupar. Aqui, entra a segunda observação, que nada mais reflete o que os indicadores oficiais indicam. Esse espaço é em parte limitado porque - tomem nota - do que importamos da Ásia no primeiro semestre, 98% foram produtos industriais e 2% de produtos básicos. Outros números importantes: 67,7% do que exportamos para esses países são produtos básicos, minerais, vegetais, agrícolas. E apenas 32,2% são industriais. Eles têm um sólido parque industrial, dão preferência para negociar com os mercados de grande escala, EUA, Europa, além de exercerem um intenso comércio intra-regional. SÓ ALGUNS Mais interessante é registrar que apenas alguns países asiáticos concentram essas exportações brasileiras. China é o especial destaque, um aumento de 25% neste semestre. Coreia do Sul, mais 1,1%. Surpreendente foi o aumento das vendas para a Índia, 133,9%, embora impliquem em valores menos significativos, em torno de US$ 1 bilhão e US$ 3 bilhões. Em compensação, as exportações para o Japão despencaram nada menos que 25,9%. CHEGA DE NÚMEROS! Sei que cansei o leitor, mas são indicadores oficiais, do Ministério do Desenvolvimento, indispensáveis para mostrar a crescente importância para o Brasil do único mercado que cresce no mundo. Temos de incentivá-lo neste momento de crise mundial, pois o comércio exterior é um dos fatores básicos do nosso crescimento. Ele cria mercado externo, atrai divisas e aumenta a produção que, consequentemente, gera emprego. DIFÍCIL MAS VIÁVEL Mas como? É missão difícil que exige integração do governo e do setor privado. O que falta é superar limites, mudar a pauta do comércio com os asiáticos, exportar mais produtos industriais e menos primários, que hoje sustentam nossa balança comercial e o superávit. Missão difícil, mas possível, mesmo porque, em médio prazo, não há alternativa. Hoje, a balança comercial depende basicamente da exportação de produtos primários - os mesmo que os asiáticos nos compram. É uma situação delicada porque os preços no mercado internacional oscilam muito, grande alta se sucede a grande baixa, de acordo com a evolução da economia mundial. Esse fato cria distorções cambiais, valorização do real, que, por sua vez, prejudica as exportações tão necessárias dos produtos industriais. Quando os preços das commodities minerais e agrícolas sobem, o real valoriza. Quando caem, como ocorreu no início da recessão, ele recua diante do dólar Sem dúvida, é muito difícil manter uma política cambial apropriada com essa dependência externa dos produtos primários. E é isso o que estamos vendo agora. Aumentar as exportações industriais é outro fator, desanimador porém. A competição no Leste da Ásia com produtos de maior qualidade e menor preço é simplesmente torturante. Como o leitor pode ver, estamos diante de uma série perversa de causa-efeito-causa que não cabe só ao governo romper. Cabe também ao setor privado, à agressividade dos exportadores, a uma verdadeira mudança de atitude, de política empresarial. A indústria brasileira não pode continuar dependendo só do mercado interno para se expandir por muito tempo. Ele também tem limites para se expandir. Por enquanto, esse mercado cresce sob o forte impulso dos estímulos oficiais. Mas até quando? Isso não pode se constituir em uma política permanente de governo. *E- mail : att@attglobal.net

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