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País enfrenta desafio de produtividade

Presidente da Finep alerta que, sem inovação e tecnologia, não será possível garantir um crescimento sustentável da economia

Por Marcelo Rehder
Atualização:

Somente a inovação será capaz de reverter o quadro de estagnação da economia brasileira, cuja produtividade hoje é a mesma de 1980, alertou o presidente da Agência Brasileira da Inovação (Finep), Glauco Arbix, na abertura do Fórum Estadão Investimentos em Inovação para a Competitividade, na terça-feira em São Paulo. Nesse mesmo período, a produtividade da economia dos países asiáticos triplicou, comparou Arbix, citando dados do Banco Mundial. "Ou nós revertemos essa situação ou vamos crescer aos soluços", ressaltou o presidente da Finep. Ele acrescentou que as empresas que não inovarem vão morrer ou encolher. Arbix disse também que o Brasil ficou muito tempo prisioneiro de uma discussão macroeconômica sobre inflação, juros e câmbio. "São variáveis extremamente importantes e necessárias para o País, mas é sempre bom lembrar que, se não houver a entrada em cena do personagem inovação e tecnologia para alterar o padrão de produtividade das empresas brasileiras, nós não teremos saída." O presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, observou que "as amarras que dificultam a vida do setor produtivo, traduzidas no chamado custo Brasil, também são entraves à inovação". Ele defendeu que haja um esforço para soltar essas amarras e aproximar governo, empresa e universidade. O mercado de inovação no Brasil não é pequeno, disse o diretor de Inovação da Finep, João De Nigri. O problema é que ele ainda não dispõe de instrumentos públicos adequados de financiamento. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o investimento das empresas em inovação gira em torno de R$ 45 bilhões a R$ 50 bilhões. "Menos de 10% desses recursos são financiados pelo setor público." Embora essa participação, que estava em 5%, tenha aumentado um pouco no período recente, De Nigri afirma que ainda é muito baixa a atuação do setor público em fornecer crédito de longo prazo em taxas condizentes com aquilo que as empresas precisam para inovar. "Nos países desenvolvidos, o setor público financia 100% dos investimentos em inovação, com taxas muito competitivas e adequadas", argumentou o diretor da Finep. O presidente do laboratório farmacêutico Cristália, Ogari Pacheco, contou que, investindo "no que não era fácil fazer", sua empresa chegou à liderança nos mercados de medicamentos hospitalares e de antirretrovirais no Brasil e nos de anestésicos e analgésicos na América Latina. "A grande inovação da indústria farmacêutica nacional era comercial", lembra Pacheco. "Ela criou o que chamamos de atitude comercial agressiva, um eufemismo para o lançamento das vendas bonificadas e da empurroterapia", ressalta. A empurroterapia era uma prática antiga no Brasil que consistia em vendedores oferecerem medicamentos similares, ou seja, que contém um ou mais princípios ativos iguais ao do medicamento de referência, no lugar dos remédios de marca, para ganhar comissão dos seus fabricantes. A questão é que era muito mais fácil para os laboratórios brasileiros copiar o remédio pronto das multinacionais do que fazer investimento e desenvolver produtos novos. No entanto, as multinacionais tinham produtos que só forneciam para as suas subsidiárias aqui, e que permaneciam com preços elevados. "Poucas empresas sacaram que, se fosse possível fabricar um princípio ativo não disponível no mercado e lançar o produto aqui, o mercado seria de apenas dois: da subsidiária e de quem conseguisse fazer. E foi assim que fizemos", afirmou Pacheco. O presidente do grupo Ourofino, Dolivar Caraucci Neto, contou que, desde que foi criada, a empresa enfrenta o desafio da inovação. Ela atua no segmento de saúde animal, originalmente dominado por grandes corporações internacionais. "Por uma questão de sobrevivência, fomos buscar o caminho da inovação e da competitividade do nosso negocio", diz o empresário. "A primeira questão envolvida nesse processo foi desmistificar a inovação." Para ele, a inovação tem de estar diretamente envolvida nos processos da empresa. "É mais um departamento no nosso negocio, como uma auditoria ou uma controladoria."Infraestrutura tem atraso de décadas No setor de logística, o problema também é custo. Hoje, o Brasil gasta aproximadamente 12% do Produto Interno Bruto (PIB) com logística, o que é muito alto se comparado com países desenvolvidos, citou Vasco Carvalho Oliveira Neto, presidente da AGV Logística. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse número está na casa de 7% a 8%. "O setor certamente tem muito espaço para buscar inovação", afirmou. Para ele, a situação atual do setor se deve em boa parte a dois grandes fatores, um deles relacionado às deficiências de infraestrutura no País. "Estamos atrasados três décadas em relação aos países mais avançados". O segundo é referente a questões de processos e de tecnologia, no que o Brasil, segundo ele, está uma década atrás dos países desenvolvidos. Na AGV existem mais de 50 pessoas que desenvolvem software, usado principalmente para gestão da cadeia e de utilização de malha logística.

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