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País já tem déficit de gás natural, conclui estudo da CNI

Só não estaria havendo racionamento porque térmicas estão sendo poupadas

Por Leonardo Goy
Atualização:

O Brasil já vive hoje uma situação de déficit no mercado de gás natural. Mas o País ainda não precisa passar por uma política de racionamento desse combustível porque as usinas termoelétricas movidas a gás não estão sendo acionadas em sua plenitude. Essas são algumas das principais conclusões de um amplo estudo sobre a matriz energética brasileira encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao qual o Estado teve acesso. O levantamento mostra que a projeção total de consumo de gás natural para 2008, incluindo a demanda das distribuidoras, das refinarias e todos os contratos das usinas termoelétricas (ou seja, todo o gás a que elas têm direito), é de 91,6 milhões de metros cúbicos diários. A oferta total, por sua vez, fica apenas na casa dos 72,4 milhões de metros cúbicos. O que significa que, teoricamente, haverá, já no ano que vem, um déficit de 19,2 milhões de metros cúbicos de gás por dia - quase dois terços da capacidade do gasoduto Brasil-Bolívia. O estudo da CNI afirma que essa situação só não levou o País a viver um racionamento de gás, porque a demanda está sendo reduzida de forma indireta, ''''pela retirada de quase 3 mil megawatts de térmicas a gás da oferta de energia elétrica''''. ''''Não tem gás para as termoelétricas disponíveis. Isso nos parece uma espécie de racionamento, ou de déficit de suprimento'''', disse o presidente do conselho temático de infra-estrutura da CNI, José de Freitas Mascarenhas. Segundo ele, esse problema começou no governo anterior, ''''que liberou mais termoelétricas do que era possível abastecer, com a suposição de que elas não entrariam em funcionamento simultaneamente''''. Pelas projeções da CNI, o déficit de gás natural em 2009 seria reduzido para 7,6 milhões de metros cúbicos por dia. A situação só seria revertida em 2010, quando as projeções indicam que pode haver um superávit do combustível de 10,9 milhões de metros cúbicos , por causa da entrada de nova produção na Bacia do Espírito Santo e do começo da importação de Gás Natural Liquefeito (GNL). O consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), disse que, num cenário ideal, em que houvesse mais gás, as termoelétricas seriam acionadas mais intensamente, para ''''guardar'''' mais água nos reservatórios das hidrelétricas. Como falta gás, as usinas termoelétricas não são despachadas como deveriam, poupando combustível para o chamado mercado não-térmico (residências, indústrias e veículos). O preço dessa conta é que os reservatórios das hidrelétricas deixam de ser poupados. ''''O governo prefere arriscar baixar mais os reservatórios do que tirar gás do mercado.''''

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