21 de fevereiro de 2008 | 16h38
O fato de o Brasil ter se tornado credor líquido externo pode acelerar a obtenção do grau investimento para o País se for associado a um esforço do governo de melhora na área fiscal do País, disseram analistas em Nova York para a Agência Estado. A dívida líquida pública estava em 42,8% do PIB em dezembro de 2007, mas agências de rating apontam que o nível de países de grau investimento está na faixa de 30%. O nível da dívida líquida pública se opõe à conquista no lado externo. "Seria ótimo que o esforço fiscal correspondesse ao esforço externo do País", afirma o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para mercados emergentes, Paulo Leme. "O investment grade não está fechado", afirmou. O diretor de estratégia do Lehman Brothers para mercados emergentes, John Welch, concorda que o Brasil "ganha maior blindagem frente ao ambiente externo menos favorável". Mas a conquista, ressalva ele, "não deve figurar para as agências de classificação de rating". A conquista no front externo é elogiada por participantes do mercado internacional e reconhecida como um marco na história do País, mas "não é novidade para quem é investidor dedicado", ponderou Paulo Leme. O estrategista-chefe para emergentes do ING, David Spegel, concorda e avalia que todos os países com superávit em conta corrente são vistos pelos mercados como credores. "Assim, na prática, o Brasil já era um credor há algum tempo", afirmou. Mas a constatação em relatório pelo Banco Central, avalia o economista-sênior do RBC Capital Markets para emergentes, Paul Biszko, é um fator que deve aumentar a confiança no País em um momento de elevada volatilidade no ambiente internacional. "O Brasil não depende do mercado externo para se financiar", comenta. "Em tempos de volatilidade, isto é extremamente importante". Leme destaca os méritos do Brasil que "fez esforço no ajuste externo ao longo dos últimos 10 anos. O resultado está aí e é extraordinário", avalia. Mas ele acrescenta que o "trabalho não está completo". Por exemplo, do lado fiscal uma crítica freqüente entre especialistas refere-se ao afrouxamento nos gastos visto recentemente no País. Diante do fato de que o Brasil tem déficit fiscal nominal, os analistas afirmam que, se o superávit primário não tivesse sido reduzido para 3,75% do PIB, a dívida líquida pública poderia estar abaixo de 40% agora. Este nível de superávit primário é "insuficiente" para reduzir a dívida pública em um ritmo satisfatório, sentenciam os especialistas. Como o momento é de elevada incerteza quanto ao ambiente externo, a avaliação é que seria prudente que a agências de classificação de risco aguardassem para ver a resposta do governo à piora internacional. Ainda, enumeram os analistas, continua pesando a não-renovação da CPMF em dezembro de 2007. Apesar de medidas como a elevação do IOF, por exemplo, os analistas querem ver como o Orçamento vai fechar sem o restante da receita que a contribuição gerava ao governo. Um outro ponto crucial refere-se aos gastos do governo. "O ritmo da despesa corrente é insustentável", alerta Leme. No foco das agências, completa Bisko, também estará o acompanhamento para ver se o governo "será capaz de ser ortodoxo na área fiscal mesmo com um ambiente externo menos favorável. Progresso na agenda de reformas iria ajudar", acrescenta.
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