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País terá de dobrar geração de energia até 2011

Por Agencia Estado
Atualização:

O Ministério das Minas e Energia discute amanhã o Plano Decenal 2002/11 de expansão do setor elétrico que prevê aumento de até 92,1% no consumo no período, conforme projeções preparadas pela Eletrobrás. Pelas estimativas da holding estatal, em dez anos o consumo atingirá quase 600 terawatts-hora em 2011 (595,4 TWh), num cenário otimista, ultrapassando a previsão de consumo de alguns países desenvolvidos, como a França, por exemplo. Num cenário menos otimista, o consumo alcançaria 533 TWh o que, de qualquer forma, implicará a necessidade investimentos maciços na capacidade de geração nos próximos anos. Para atender ao consumo, o Brasil teria de quase dobrar o atual parque gerador, com a potência instalada subindo dos atuais 68 mil MW para cerca de 120 mil MW em 2011. Em palestra no seminário "Modelo de previsão de mercado de energia elétrica", no Rio, o chefe do Departamento de Mercado da Eletrobrás, Amílcar Guerreiro, disse que isso exigirá expansão em torno de 3.800 MW por ano, no cenário menos otimista o que é o dobro da média registrada no período 1991 a 2001, quando a expansão ficou em 1.900 MW/ano. Até agora estão definidos projetos para aumento de 24.100 MW, o que indica que ainda falta equacionar cerca de 14.000 MW na geração. O quadro ainda não é preocupante, na avaliação de Guerreiro, porque "há tempo" para se lançar novos projetos. "O que não se deve é não ter uma definição, pois os investimentos no setor exigem quatro ou seis anos para sair do papel até o início das operações", comentou. O documento que será examinado amanhã pelo MME foi elaborado sem informações das 64 concessionárias do País, devido às dificuldades de obtenção de dados. Além disso, há diversas questões que dependem de decisões políticas. O diretor do Departamento Nacional de Política Energética do Ministério das Minas e Energia, Sérgio Valdir Bajay, deu o exemplo das águas do Rio São Francisco, que devem ser "divididas" entre a geração de eletricidade e projetos de irrigação. Bajay disse que o governo vai fazer um inventário de quatro bacias hidrográficas para analisar qual o melhor uso para o País das águas desses rios. As bacias hidrográficas a serem estudadas, nessa primeira etapa, serão as do Rio São Francisco, Rio Xingu e duas pequenas bacias no interior de São Paulo (Piracicaba e Alto Tietê). Dependendo da opção, esses rios poderão gerar mais ou menos energia. Racionamento As mudanças nos hábitos de consumo após o racionamento do ano passado e o próprio aumento dos "gatos" (furto de energia) também dificultam o planejamento de longo prazo, uma prática interrompida pelo governo brasileiro com o início do programa de privatização do setor e que está sendo retomada pelo ministério. Outro impacto relevante no consumo é o aumento das tarifas de energia elétrica acima da capacidade de poder aquisitivo da população. A definição de "consumidor de baixa renda" trouxe um complicador a mais, especialmente para as concessionárias de região mais pobres, como as do Nordeste. Segundo um técnico de uma concessionária nordestina, muitos consumidores na região estão pouco acima da faixa dos 80 KWh - nível definido como teto para os de baixa renda - e que poderão fazer economia (ou gatos) para ficar nesse segmento, com tarifas menores. O especialista no setor elétrico e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Maurício Tolmasquim alertou que os mesmos pressupostos podem resultar em alterações relevantes no consumo de energia a longo prazo. Na sua palestra, o acadêmico disse que conduziu um trabalho para o ministério no ano passado, seguindo as premissas definidas pelo governo, inclusive a possibilidade de utilização máxima do gás natural na matriz energética. Ele disse que refez as mesmas projeções, mas considerando outras variáveis, inclusive uma melhor distribuição de renda, e encontrou resultados bastante diferentes. "Na nossa projeção, o consumo brasileiro de energia seria 17% menor do que as projeções do governo para 2020", comentou Tolmasquim.

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