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País vai acompanhar o mundo em pouso forçado, diz Roubini

Para o economista que previu com mais precisão a crise financeira global, qualquer crescimento do Brasil abaixo de 3% já pode ser considerado fraco

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Por Fernando Dantas
Atualização:

O Brasil vai seguir o resto do mundo num pouso forçado em 2009, com possibilidade até de "crescimento negativo". Quem afirma é Nouriel Roubini, o economista que previu com mais precisão o grande cataclismo financeiro que se abateu sobre a economia global a partir de setembro do ano passado. "O crescimento no Brasil pode ser próximo de zero, pode ser 1%, ou pode até acabar sendo negativo", disse Roubini ontem de manhã a jornalistas, enquanto se preparava para uma maratona de debates durante o Fórum Econômico Mundial. A seguir, os principais pontos da conversa com Nouriel Roubini. ECONOMIA GLOBAL "O melhor cenário é aquele no qual só há recuperação em 2010, com crescimento em torno de 1% nas economias avançadas - mas vai parecer ainda recessão, com o desemprego em alta. O pior cenário é o de estagnação ao estilo japonês, por vários anos. Assim, teremos sorte se for apenas uma contração muito feia de dois anos. Eu diria que há 2/3 de chance de contração de dois anos, e 1/3 de estagnação de vários anos." POLÍTICA ECONÔMICA "Se a reação de política econômica não for a correta, se não houver suficiente relaxamento monetário, se o estímulo fiscal não for o correto, se os bancos não forem saneados da forma certa, se o serviço da dívida hipotecária não for reduzido, então aumenta-se o risco de uma recessão de estilo japonês em forma de L (uma queda, seguida de um longo período em baixa). Eu não digo que sejam condições como as da Grande Depressão, nos anos 30, mas eu digo que uma estagnação por vários anos, com crescimento perto de zero e pressão deflacionária, pode ser a história dos próximos anos, sem a reação correta de política econômica." LIMITES "É claro que, no lado fiscal, há constrangimentos, porque já há grandes déficits e dívidas. Não é um almoço grátis. Os países que iniciam (este processo) com níveis altos de déficit e dívida, podem ter problemas de solvência. Os bancos são grandes demais para falir, mas também são grandes demais para salvar. Podemos ter rebaixamentos (de ratings de países), os spreads vão aumentar, leilões de títulos vão fracassar. O total do estímulo fiscal, portanto, é limitado pelo fato de que alguns países podem fazer muito, e outros não podem fazer tanto, por já estarem apertados." OBAMA "Eu acho que ele é um grande presidente, é inteligente, carismático, e escolheu uma excelente equipe econômica, que vai tentar fazer coisas de forma agressiva. Mas mesmo o melhor plano, desenhado e executado com a velocidade suficiente, só vai fazer alguma diferença em 2010. Não vai haver nenhuma recuperação do crescimento este ano, nem recuperação do mercado financeiro." CHINA E ÁSIA "A China agora já está com crescimento negativo, se você olhar corretamente os dados. Na Coreia, o crescimento anualizado do último trimestre de 2008 foi de menos 20%, em Cingapura, menos 16%. Se a China crescer (no ano) 5%, será sorte." EMERGENTES "Os mercados emergentes também estão em stress, por causa do crescimento global negativo, da queda da exportações, da queda das commodities, da fuga de capital, do aumento de aversão ao risco. É um ano duro, de pouso forçado para os emergentes. Com a demanda pelas commodities despencando, serão afetados o Brasil, a América Latina, a África e países da Ásia exportadores de commodities." BRASIL "O crescimento no Brasil pode ser próximo de zero, pode ser 1%, ou até acabar sendo negativo. Mas, para um país como o Brasil, com problemas de pobreza e subdesenvolvimento, qualquer coisa abaixo de 3% é um pouso forçado. Os mercados emergentes crescem potencialmente 6% a 7%, mas agora a média vai ser 2%. Isso é como uma recessão, mesmo que tecnicamente seja crescimento positivo. É tão fraco que a renda per capita real não está crescendo, o que para mim significa pouso forçado no Brasil, na América Latina, na Ásia, nos mercados emergentes." REFORMAS ESTRUTURAIS "É difícil (fazer reforma estrutural em tempos de recessão), porque é difícil pedir mais dor no curto prazo, dizendo que haverá luz no fim do túnel. A economia política mostra que fazer reformas estruturais em meio à recessão não é fácil."

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