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'País vive situações estruturais favoráveis'

Meirelles afirma que a estabilidade no Brasil tem criado a possibilidade de que os juros sejam os menores da história

Por Mariana Congo
Atualização:

O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles não arrisca palpites para números macroeconômicos, mas diz que o País vive situações estruturais favoráveis. Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida por Meirelles:

Estamos na mínima histórica da Selic. Na sua avaliação, até quando há espaço para cortar juros?

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Em primeiro lugar, eu adoto como prática, que é uma prática de bancos centrais, que é a de não fazer comentários sobre gestões no Banco Central logo depois nos primeiros anos após a saída da presidência do BC, portanto, não estou fazendo comentários específicos sobre isso. Do ponto de vista macro, a taxa de juros do Brasil tem caído nos últimos anos. A taxa de juros real, de mercado, em 2003 era 14% e isso vem caindo gradualmente com uma inflação na meta. Isso significa que a estabilidade no Brasil tem gerado a possibilidade de que as taxas de juros de fato sejam menores e isso é uma realidade.

Pensando em crescimento econômico, o senhor está mais para otimista? Qual seria seu palpite para o PIB que sai na sexta-feira?

O crescimento médio do ano de 2012 realmente tende ser em linha com a expectativa do mercado hoje. De fato, não deve ser um crescimento médio muito elevado se comparado com a média de 2011. Existe sim uma boa possibilidade de recuperação na margem. Isto é, uma recuperação onde o crescimento do trimestre sobre o trimestre anterior no final do ano e no começo do ano já esteja se aproximando de patamares de 4%.

Qual sua avaliação sobre o cenário macroeconômico internacional e como ele afeta o Brasil?

Os EUA atravessam uma crise muito séria e estão em um processo de recuperação gradua. A minha expectativa é que a economia dos EUA pode ter altos e baixos, mas ela tende a uma recuperação gradual.

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A situação da Europa é um pouco mais complicada, porque envolve diversos países com políticas muito diferentes. Aqueles países do sul, principalmente, tem dificuldades de ajuste muito grande. Então, não há dúvida de que isso vai representar um efeito depressivo e recessivo.

A China, que em 2009 ajudou a puxar a economia mundial em direção à recuperação, hoje não está tendo condições de fazer o mesmo. Ao mesmo tempo, existem mudanças estruturais, de deixar o modelo exportador para o modelo voltado ao consumo doméstico e, portanto, com taxa de crescimento menor.

Tudo isso tem impactos diferentes e importantes para o Brasil. Consumidores, empresas e bancos passam a estar mais preocupados e, portanto, podem tentar a diminuir seu nível de atividade e investimento. Existe uma aversão ao risco maior e por isso determinados tipos de investimento podem ter uma demanda menor.

Por outro lado, o Brasil tem dívida pública sobre produto menor hoje que a média internacional do G-20, tem hoje reservas internacionais muito elevadas, tem um histórico de inflação sob controle nos últimos 10 anos. Isso tudo faz com que o País tenha condições de entrar nessa crise com mais tranquilidade.

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