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Países do Bric intensificam laços e discutem crise d alimentos

Por CONOR SWEENEY
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As maiores economias emergentes do mundo -- Brasil, Rússia, Índia e China -- acertaram na sexta-feira a formalização do grupo "Bric" a fim de ratificar seu peso na economia global. Os quatro países do Bric, que respondem por mais de um décimo do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, disseram que desejam ampliar a cooperação recíproca em uma série de frentes para encontrar formas de minimizar o fardo da disparada do preço dos alimentos. "Montar um sistema internacional mais democrático fundado no império da lei e em uma diplomacia multilateral é um imperativo do nosso tempo", afirmaram os ministros das Relações Exteriores dos quatro países em um comunicado conjunto divulgado após negociações realizadas na cidade de Yekaterinburg (Rússia). Os quatro "confirmaram as aspirações dos países do Bric de trabalharem entre si e com outras nações a fim de fortalecer a segurança e a estabilidade internacionais." O termo Bric foi cunhado pelo banco norte-americano Goldman Sachs para descrever como as quatro economias em ritmo acelerado de expansão do Brasil, da Rússia, da Índia e da China devem rivalizar e eventualmente suplantar muitas das maiores economias desenvolvidas nos próximos 50 anos. A reunião de Yekaterinburg é o primeiro encontro exclusivo realizado pelos quatro chanceleres dos países do Bric. O ministro indiano das Relações Exteriores, Pranab Mukherjee, disse que o bloco havia protegido o mundo desenvolvido de uma recessão econômica maior nos últimos anos. "Eles (os grandes países em desenvolvimento) evitaram que o mundo enfrentasse uma situação ainda pior. Estamos diante de um cenário diferente daquele visto no passado, quando houve casos de recessão mundial", afirmou Mukherjee. CRISE DOS ALIMENTOS Os quatro países, que respondem por 40 por cento da população mundial, discutiram ainda a disparada do preço dos alimentos e criticaram os países desenvolvidos por subsidiarem seus produtores rurais. O chanceler indiano criticou os "produtores ineficientes" dos países desenvolvidos que recebem subsídios, o que prejudicaria os esforços das nações em desenvolvimento para alimentar suas populações, as mais atingidas pelo aumento dos preços. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, citou a questão do excesso de produção nos países ricos, devido ao auxílio financeiro aos agricultores, como um fator que ao longo do tempo acabou agravando o problema alimentar no mundo. Os subsídios, principalmente na exportação dos saldos de alimentos dos países ricos, deprimiram os preços dos produtos agrícolas há alguns anos, desestimulando o cultivo em muitos países em desenvolvimento que agora enfrentam escassez. A China defendeu uma maior cooperação entre os produtores e os consumidores de combustíveis a fim de reduzir a volatilidade dos preços no mercado internacional de petróleo. A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, ao passo que a China é o segundo maior importador do produto. "A especulação nos mercados mundiais provocou uma elevação acentuada dos preços do petróleo. A comunidade internacional deveria intensificar seus esforços para consumir energia de forma mais eficiente e intensificar o diálogo entre os produtores e os consumidores de energia", afirmou o ministro chinês das Relações Exteriores, Yang Jiechi. Analistas afirmam que, apesar de os países do Bric registrarem altas taxas de crescimento e ambições geopolíticas, a cooperação entre eles vê-se prejudicada por uma falta de confiança mútua. "A Rússia busca conquistar um novo lugar no mundo. A Rússia aprendeu a ser um parceiro difícil do Ocidente, mas não aprendeu ainda como utilizar isso em seu benefício", afirmou Masha Lippman, analista de política do Heritage Center, referindo-se ao encontro do Bric. "A Rússia busca formas de, caso não sele uma aliança, ao menos diversificar sua política externa. Ainda não se pode prever se algo resultará disso", afirmou a analista.

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