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Países ricos não recuperarão PIB perdido pela crise, diz FMI

Entidade pede que países iniciem reformas para ajustar a economia, com atenção no mercado de trabalho

Por Efe
Atualização:

O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou nesta terça-feira, 22, que os países mais desenvolvidos não vão se reerguer com energia suficiente para recuperar a riqueza perdida durante a crise, e pediu a eles que reformem seu mercado de trabalho para atenuar essas perdas.

 

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Uma recessão sempre é dolorosa, mas quando vem acompanhada de caos no sistema financeiro sua pegada é muito mais profunda, disse o FMI, que divulgou neste terça parte de seu relatório semestral principal, "Perspectivas Econômicas Mundiais".

 

"Após uma recessão normal há um rebote, mas neste caso este rebote pode não ser muito forte ou simplesmente não chegar", disse em entrevista coletiva Olivier Blanchard, o economista-chefe do FMI.

 

A fraqueza da recuperação fará com que provavelmente os países desenvolvidos não recuperem o Produto Interno Bruto (PIB) perdido, como ocorreu nas economias emergentes durante a crise da dívida dos anos 80, segundo o FMI.

 

Em episódios similares no passado, essa perda chegou a 10% do PIB sete anos depois da crise, de acordo com o FMI, que analisou 88 casos nos últimos 40 anos.

 

Esses resultados têm implicações muito sérias devido ao alcance dos problemas, pois o PIB combinado dos países que estão imersos na crise equivale a quase a metade do produto das nações avançadas e um quarto do PIB mundial.

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A destruição de riqueza se deve ao fato de o alto desemprego costumar persistir por um longo período, já que é necessária uma transferência de mão-de-obra entre setores.

 

Em países que passam por uma crise imobiliária, os trabalhadores da construção excedentes têm de buscar outras áreas, e o mesmo deve ser feito pelos ex-funcionários do setor financeiro, em nações como os Estados Unidos.

 

Além disso, as crises bancárias destroem capital com a redução de investimento por causa da escassez de crédito, o que prejudica ainda a produtividade, segundo o FMI.

 

Mas nem tudo está perdido. As medidas "enérgicas" de estímulo fiscal e monetário adotadas até agora podem atenuar a crise no médio prazo, de acordo com a instituição.

 

Além disso, o FMI pediu que os países impulsionem reformas que facilitem o ajuste da economia, em particular mudanças no mercado de trabalho que estimulem a transferência de mão-de-obra de uns setores a outros.

 

Em seu relatório, o organismo também abordou maneiras de modificar a política monetária para que não contribua para inflar borbulhas perigosas como a que originou a crise atual.

 

O FMI recomenda a ampliação dos mandatos dos bancos centrais, de modo que não se ocupem exclusivamente de manter a inflação sobre controle, mas que subam as taxas de juros também quando percebam uma escalada perigosa dos preços dos ativos.

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Com isso, o Fundo se uniu às vozes que pedem na Europa e nos Estados Unidos um novo modelo para os bancos centrais, para que se ocupem também da estabilidade financeira.

 

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) foi apontado como parcialmente culpado pela crise, por deixar os juros básicos em 1% em 2003 como resposta à fraqueza econômica, e só subir a taxa do dinheiro muito pausadamente.

 

A bola de crédito fácil que se formou então e que disparou o mercado imobiliário acabou sendo responsável pelos problemas atuais, de acordo com alguns analistas, e o FMI parece concordar com esta opinião.

 

O organismo recomendou que os bancos centrais subam as taxas de juros "antes e mais", assim que observarem sinais de reaquecimento econômico ou borbulhas no crédito ou nos preços dos ativos.

 

O problema, certamente, é determinar quando se trata de uma bolha e quando de uma alta legítima dos valores, justificada por lucro na produtividade.

 

Alguns indicadores que podem orientar as autoridades são a explosão do crédito, do investimento em imóveis e do déficit por conta corrente, que costuma anteceder a um desabe de preços, segundo o Fundo.

 

Em todo caso, o organismo pediu "expectativas realistas" sobre o que os bancos centrais podem conseguir, e que se aceite a possibilidade de eles estarem equivocados.

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(César Muñoz Acebes)

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