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Países têm encontros secretos para destravar Doha

Local dos encontros têm sido mantido em segredo para dar "tranqüilidade" para que os ministros de Brasil, EUA, UE e Índia possam aproximar suas posições

Por Agencia Estado
Atualização:

Os ministros de Brasil, Estados Unidos, União Européia e Índia se reúnem a partir desta sexta-feira, 2, em Londres e Genebra, para tentar desbloquear as negociações da Organização Mundial do Comercio (OMC) e tentar salvar a Rodada Doha. O momento é considerado tão delicado que diplomatas estão se recusando a informar onde as reuniões ocorrerão para dar "tranqüilidade" para que os ministros possam aproximar suas posições. A tentativa de manter as reuniões em sigilo irritou vários países que estão de fora do processo. Já organizações não governamentais (ONGs) condenaram a atitude dos quatro governos de não revelar nem sequer onde ocorrerão as conversas e pedem que Brasil e Índia não aceitem as condições apresentadas pelos países ricos. A primeira rodada de negociações ocorre entre esta sexta e sábado em Londres apenas entre Índia, Europa e Estados Unidos. Na segunda e terça-feira, os governos irão para Genebra e se reúnem também com o Brasil e com o diretor da OMC, Pascal Lamy. O chanceler Celso Amorim terá encontros com o ministro do Comercio da Índia, Kamal Nath, para tentar evitar um racha no G-20, grupo de países emergentes. Americanos e europeus querem a ajuda do País para convencer a Índia a aceitar as bases de um acordo no setor agrícola. Nova Délhi rejeita, porém, um entendimento que represente uma abertura de seu próprio mercado. Amorim ainda terá encontros com a representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, e com o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson. Em Paris, porém, as eleições francesas de maio ainda impedem que o governo aceite uma maior abertura de seu mercado agrícola e desagrade os agricultores, considerados como eleitores fundamentais nos cálculos dos candidatos. O processo negociador foi lançado em 2001, mas em julho do ano passado foi suspenso diante da recusa dos governos em ceder em suas posições no setor agrícola. A Rodada ficou praticamente paralisada até janeiro deste ano, quando a OMC optou por retomar o processo e tentar chegar a um acordo. Mas diplomatas reconhecem que a negociação não está sendo fácil e não há garantias ainda de que possa haver um avanço real. Um dos principais obstáculos seria a rejeição do governo dos Estados Unidos em reduzir seus subsídios agrícolas sem que a Europa promova um corte significativo de suas tarifas de importação. O Estado apurou que uma das estratégias dos negociadores é debater um teto para o volume de subsídios em cada um dos produtos que interessam ao Brasil, Estados Unidos, Índia e Europa. Segundo revelou um conselheiro agrícola dos Estados Unidos, a dificuldade em chegar a um acordo estava no fato de que a negociação estava criando um teto único para todos os produtos agrícolas. A nova tentativa dos diplomatas é discutir o valor dos subsídios para cada produto, como milho, algodão, açúcar e soja. Para diplomatas brasileiros, a OMC tem até o próximo mês para chegar a um acordo parcial se quiser ainda concluir a rodada em 2007. Isso porque o governo americano está autorizado a negociar apenas até julho. Após esse prazo, a Casa Branca terá de pedir uma nova autorização ao Congresso dos Estados Unidos. Em Washington, muitos acreditam que se os deputados e senadores não observarem progressos reais na OMC até abril, dificilmente aprovarão uma nova autorização para o governo de George W. Bush. Ja a entidade ActionAid não poupou críticas ao sigilo mantido pelos governos sobre o conteúdo e local das reuniões deste fim de semana. "Condenamos as reuniões em que os pesos pesados do comércio estão barganhando entre si o futuro de milhões de pessoas", afirmou Aftab Khan, representante da ONG. "Pedimos que Brasil e Índia não aceitem um entendimento apenas para salvar a rodada", completou.

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