BRASÍLIA - O Banco Central divulgou nesta quinta-feira, 25, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), um box sobre o comportamento dos fluxos de Investimento Direto no País (IDP) durante a pandemia de covid-19. O documento aponta que a retração nesses ingressos no Brasil em 2020 foi similar ao registrado em outras economias emergentes, o que indicaria que essa deterioração decorre de fatores sistêmicos.
O IDP engloba investimentos mais duradouros no País, como em uma nova fábrica ou ampliação da capacidade de uma instalação já existente no país.
Os ingressos no Brasil caíram de US$ 69 bilhões em 2019 para US$ 34 bilhões no ano passado. “Como tais fluxos são considerados de fundamental importância para a transferência de tecnologia, é possível que quedas duradouras dessa variável possam comprometer o processo de integração nas cadeias globais de valor e a competitividade dos países afetados, com consequências para seu desenvolvimento econômico de longo prazo”, alertou o BC.
O documento destaca que o fluxo de IDP para países emergentes (excluindo a China) chegou a cair em média 37% entre o segundo e o terceiro trimestres de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019. “Essa queda é comparável ao pior momento da crise financeira global de 2008 e 2009”, avaliou o BC.
Em setembro do ano passado, em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro disse que os investimentos diretos no País haviam aumentado no primeiro semestre do ano na comparação com o mesmo período de 2019. "Isso comprova a confiança do mundo em nosso governo", afirmou a outros líderes mundiais.
Os números do próprio BC, no entanto, o desmentem. O Brasil registrou no primeiro semestre de 2020 um total de US$ 25,3 bilhões de IDP, valor inferior aos US$ 32,2 bilhões do mesmo período de 2019.
De acordo com o BC, os fluxos de IDP para os países asiáticos já se recuperaram, enquanto para os demais emergentes (incluindo o Brasil), ainda há retração nos ingressos líquidos desses investimentos.
“A análise da evolução trimestral dos componentes do IDP brasileiro corrobora que, além do interesse estrangeiro por investimentos no País, fatores como a estratégia de financiamento das empresas multinacionais podem ser determinantes para explicar movimentos de curto prazo dessa variável”, concluiu a autoridade monetária.
O BC manteve em US$ 60 bilhões sua estimativa para o ingresso de investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira neste ano. "As surpresas positivas nas entradas de empréstimos intercompanhia no início do ano compensam a perspectiva de recuperação mais lenta da conta de participação de capital. Pesam sobre esse último componente a persistência dos efeitos econômicos da pandemia e o câmbio menos valorizado, que reduz o valor em dólar dos lucros reinvestidos", informou o BC.
Com o bom desempenho da balança comercial esperado para este ano, a previsão do Banco Central é de que as contas externas terão um superávit de US$ 2 bilhões em 2021.
No ano passado, foi registrado um déficit de US$ 12,457 bilhões nas contas externas. Se confirmada a previsão para 2021, será o primeiro saldo positivo desde 2007 (US$ 408 milhões).
O resultado de transações correntes, um dos principais componentes do setor externo do País, é formado pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).