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Para agências de risco, guerra ao Iraque aumentaria aversão ao Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Os efeitos de um ataque militar dos Estados Unidos contra o Iraque vão piorar as condições de crédito para países com elevado endividamento e grande dependência de capital estrangeiro, como o Brasil. Contudo, uma mudança na classificação ainda dependerá de fatores domésticos. Essa é a avaliação de diretores das agências de classificação de risco da Fitch Ratings e da Moody´s Investors Service, ouvidos pela Agência Estado. "Países da América do Sul sofrerão mais o impacto de um aumento no sentimento da aversão ao risco do que países como o México", disse o diretor-gerente para a área de risco soberano da Moody´s, Vincent Truglia. "No entanto, em vários países da América do Sul há outros fatores que terão maior peso do que os efeitos da aversão ao risco. No Brasil, por exemplo, o cenário político ainda é o mais importante fator, além da resposta do governo em termos de políticas à situação da economia", disse. Ele citou que o Chile e o México também estão sujeitos a um ambiente externo adverso, mas nenhum desses países sofre as pressões que o Brasil atravessa por causa do cenário político. O diretor da Moody´s ressaltou que a manutenção das linhas de financiamento ao comércio exterior é um elemento importante na análise de crédito do País. No mês passado, a Moody´s rebaixou a nota soberana brasileira em moeda estrangeira para B2, estabelecendo uma perspectiva negativa. O diretor de risco soberano para América Latina da Fitch Ratings, Roger Scher, disse que o impacto de uma deterioração no ambiente externo, em razão das ameaças de conflito militar com o Iraque, agravará mais a liquidez para os mercados emergentes, além de afetar negativamente países como o Brasil, por causa da elevação nos preços do petróleo. No entanto, em relação ao Brasil, a Fitch está monitorando uma série de fatores para tomar uma decisão em relação à nota soberana, entre eles, se haverá continuidade de políticas econômicas depois das eleições presidenciais, se o novo presidente irá administrar bem a economia e se as linhas de financiamento ao comércio exterior ao Brasil serão restauradas pelos bancos comerciais. Além disso, a agência vai monitorar se a economia voltará a crescer, se o governo cumprirá as metas do acordo com o FMI no próximo ano e se os leilões de troca de dívida continuarão ou não a ter sucesso, entre outros. "Não é preciso que todos esses fatores piorem ao mesmo tempo para haver um rebaixamento da nota, da mesma forma que não é preciso que todos esses fatores apresentem uma melhora para que a condição de observação negativa sobre o rating seja retirada", disse Scher. "Por exemplo, se as linhas de comércio exterior não forem restauradas, isso pode pesar sobre a nota soberana. Até agora, o comunicado divulgado pelos bancos comercias de apoio ao Brasil não detalha muito como será a retomada nas linhas de crédito", observou. Além disso, disse o analista, os leilões de troca de dívida continuam a ter resultados fracos. A Fitch Ratings rebaixou a nota soberana brasileira em moeda estrangeira para B+ e colocou-a em observação negativa. "Essa decisão de colocar a nota em observação negativa reflete uma alta probabilidade de ocorrer um novo rebaixamento da nota soberana brasileira no curto prazo", disse Scher. Segundo ele, diferentemente da condição de perspectiva negativa, que implica um prazo de ação de dois anos, a observação negativa implica uma decisão (retirada da observação ou rebaixamento) num prazo máximo de seis meses. Para Scher, o ambiente externo somente passará a ter um peso maior do que a lista de fatores internos hoje monitorados pela Fitch se houver um prolongamento da atual escassez de liquidez no mercado internacional, o que afetará o fluxo de capital para países que são extremamente dependentes de financiamento externo, como o Brasil. "Mas da mesma forma como não fomos extremamente otimistas durante meados da década de 90, quando o fluxo de capital estrangeiro era abundante para a América Latina, também agora tentamos não ser demasiadamente pessimistas com a redução na liquidez de capital no mercado internacional", afirmou.

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