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Para analistas, crise no Brasil atinge os países ricos

Por Agencia Estado
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Os países ricos, principalmente os Estados Unidos, não deveriam menosprezar os riscos potenciais para a fragilizado sistema financeiro internacional caso ocorra um colapso da economia brasileira. Ao contrário da Argentina, cujo contágio limitou-se ao Uruguai, uma moratória do Brasil poderia ter impacto em toda a América Latina e em países emergentes de outras regiões, solapando ainda mais o baixo nível de confiança dos investidores das nações desenvolvidas. A avaliação é do professor Jean-Paul Faguet, diretor do programa para mercados emergentes da London Scholl of Economics. Ele ressalta, no entanto, que não acredita que o Brasil irá quebrar. A exemplo dele, outros analistas estrangeiros consultados pela Agência Estado também prevêem uma superação dos atuais problemas no Brasil, mas admitem que se a crise se agravar, o sistema financeiro internacional poderá sofrer um impacto que não pode ser negligenciado. "O FMI e os Estados Unidos teriam um enorme problema nas mãos caso a situação no Brasil, a nona maior economia do mundo, se agrave", disse Faguet à Agência Estado. "A economia mundial pode suportar uma quebra na Argentina, mas uma resstruturação da dívida no Brasil poderia afetar os mercados acionários, de títulos e cambiais dos Estados Unidos e Europa". Efeito inverso Segundo ele, a derrocada da economia brasileira poderia ter um efeito inverso ao ocorrido durante a crise asiática. "O contágio, pela quebra de confiança, aconteceria inicialmente na América Latina, mas poderia se alastrar para alguns emergentes asiáticos". As sérias implicações de um colapso brasileiro também não são desconsideradas por outros economistas. O chefe para economia global da agência de risco Moodys, John Lonski, salienta que um agravamento da crise brasileira somado a um cenário de depressão nos mercados acionários e possibilidade de uma "dupla recessão" nos Estados Unidos teria o efeito de elevar ainda mais o clima de aversão ao risco entre os investidores, com impacto em outros emergentes. Já o chefe de pesquisas para mercados emergentes do banco de investimentos Dresdner Kleinworth Wasserstein, Neil Dougall, destaca que uma crise no Brasil, devido ao peso entre os emergentes, "teria o potencial de causar um contágio de grandes proporções". Economia real As economias internas de países como Estados Unidos, Espanha, Alemanha e França, apesar dos grandes volumes de estoques de investimentos diretos no Brasil, não seriam afetadas de uma maneira preocupante por um eventual calote brasileiro. "Mas o impacto negativo poderia se dar por meio dos mercados financeiros, o que pode acabar afetando a economia real", disse um economista da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nos Estados Unidos, a postura adotada pela administração do presidente George W. Bush em relação ao Brasil, tomando-se como base os sinais emitidos até o momento pelo secretário do Tesouro Paul O´Neill, contrastam com a visão do governo passado, de Bill Clinton. Em setembro de 1998, quando o Brasil sofria uma forte ataque especulativo, com evasão de reservas, o jornal britânico Financial Times alertava que o então secretário do Tesouro, Robert Rubin e diretores do Federal Reserve promoveram sucessivas reuniões para avaliar o impacto que uma crise soberana no Brasil teria na economia norte-americana. E a conclusão era preocupante. Bancos dos EUA no Brasil Apesar de cerca de 3% das exportações norte-americanas serem destinadas ao Brasil, os dois países possuem enormes ligações, tanto no mercado financeiro como no setor corporativo. Segundo o levantamento mais recente do Federal Reserve, de março a exposição de bancos norte-americanos ao Brasil é de US$ 23,7 bilhões, maior do que na Suíça, Espanha, Rússia ou México. A Espanha, país que destinou mais de US$ 50 bilhões em investimentos diretos no Brasil ao longo dos últimos dez anos, já vem sentindo os efeitos turbulência brasileira. As ações de grupos espanhóis com forte exposição no Brasil, como Telefónica, Endesa e o banco Santander Central Hispano (BSCH), vêm sendo pressionadas em parte pela desvalorização do real e as incertezas com a sucessão presidencial. A expectativa é de que os resultados desses grupos sejam afetados com a desvalorização do real, como admitiu na terça-feira o próprio BSCH. Na Alemanha, o clima não é muito diferente. Numa reportagem publicada na segunda-feira, o diário alemão Handelsblatt afirmou que ao contrário do que acontece na Argentina, que afetou principalmente a Espanha, o desaquecimento econômico no Brasil, agravado pela desvalorização do real, prejudica o desempenho econômico das subsidiárias de grandes empresas de vários países europeus presentes no País. Elas estão mais representadas nos setores automobilístico (VW, DaimlerChrysler, Fiat, Renault, Scania e todos os fornecedores), comércio e alimentos (Carrefour, Ahold, Makro, Nestlé, Parmalat) telecomunicações (empresas da Espanha, Portugal e Itália), químico (Bayer, BASF) e energético (Voith, Siemens). Na Grã-Bretanha, que não foi uma das principais fontes de investimentos diretos no Brasil ao longo da última década, a crise preocupa. O banco HSBC, que já acumula pesadas perdas na Argentina, está monitorando atentamente a crise brasileira. Na próxima semana, ao apresentar os resultados do segundo trimestre, a crise brasileira e o impacto nos resultados do banco certamente será um dos temas que irá provocar maior preocupação entre os acionistas.

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