PUBLICIDADE

Para analistas europeus, Brasil precisa reestruturar dívida

Por Agencia Estado
Atualização:

É cada vez mais a maior a dúvida sobre a sustentabilidade da dívida externa pública brasileira - tanto interna como externa. O tema, que voltou a ser abordado nesta semana pelo investidor George Soros, vem sendo motivo de muitas conversas entre bancos e fundos de investimentos europeus e os seus clientes nos últimos dias. É crescente a opinião de que o País, independentemente de quem seja o vencedor das eleições presidenciais, dificilmente terá condições de administrar os seus pesados compromissos em 2003 a menos que ocorra uma melhora do cenário externo, diminuindo a aversão ao risco e o custo dos financiamentos, uma possibilidade vista como altamente improvável pelo menos no médio prazo. Entre alguns analistas, a questão já não é "se? o Brasil irá reestruturar a sua dívida, mas sim "quando e como". Mas esse pessimismo não é consensual. Há aqueles que acreditam que passadas as eleições, o novo governo terá a oportunidade de reconquistar a confiança do mercado externo. O chefe do Departamento de Renda Fixa Global do banco alemão Sal Oppenheim, Christof Kessler, tem uma visão pessimista. "O que estamos vendo no Brasil não tem praticamente nada a ver com o resultado da eleição, isso é mais um componente psicológico", disse. "O problema é que o País não tem condições de recuperar a taxa de crescimento necessária com os juros nos atuais patamares e a conjuntura externa continua totalmente desfavorável para que esse quadro seja alterado." Kessler salienta que os vencimentos da dívida brasileira nos próximos doze meses são muito pesados. "Com o atual prêmio cobrado para a rolagem da dívida do País, bem acima dos 20%, o próximo governo deverá ser forçado a reestruturá-la", afirmou. Ele não crê que a crise brasileira poderá seguir eventualmente o mesmo padrão do colapso ocorrido na Argentina, um temor que vem dominando partes do mercado. "O País tem uma situação diferente e poderá promover uma reestruturação negociada e organizada com a comunidade financeira internacional", disse. "Provavelmente isso será seguido por um período de forte nervosismo, mas se esse processo for bem conduzido, certamente o Brasil poderá ficar numa situação melhor do que está nesse momento". Segundo ele, "essa percepção de que o Brasil terá de renegociar a sua dívida está lentamente sendo assimilada pela comunidade financeira internacional." ING Barings: ajuda do FMI não restaurou confiança Para o economista chefe para mercados emergentes do banco ING Barings, Philip Poole, "finalmente parece que o foco da atenção no Brasil está se movendo do resultado da eleição para o impacto da aversão ao risco no mundo sobre os fundamentos do País." Segundo ele, o objetivo do acordo com o FMI, que disponibilizou US$ 30 bilhões ao Brasil, era o de restaurar, pelo menos parcialmente, a confiança dos investidores. "Mas infelizmente isso não ocorreu e vemos hoje um sentimento extremamente negativo." Segundo Poole, a enorme dificuldade para o Banco Central rolar a dívida atrelada ao dólar com vencimento no próximo dia 17 é uma mostra do ceticismo do mercado. "É uma situação muito difícil para o BC, que deverá se repetir nos próximos meses, seja quem for o governo eleito", disse. "O desafio será conseguir rolar a dívida com juros aceitáveis, mas sem comprometer o sistema bancário." O analista citou o caso da Argentina, que no ano passado, "forçou os bancos e fundos de pensão a rolarem a dívida pública a taxas que não consideravam satisfatórias". Na avaliação de Poole, a possibilidade de o Brasil ser obrigado a reestruturar a sua dívida torna-se cada vez mais forte. "A tendência, nesse momento, é que isso poderá ocorrer", afirmou. "Mas isso não significa necessariamente um desastre, o País poderá, se for necessário, fazer uma reestruturação de uma maneira negociada e amigável, tomando medidas consideradas pró-mercado que aliviem o seu impacto negativo." Commerz: "Recuperação do Brasil interessa à comunidade financeira internacional" Já o chefe para mercados emergentes do fundo de investimentos alemão Commerz Asset Management, Harald Eggerstedt, acredita que o País ainda terá condições de superar esse momento adverso após a eleição presidencial. "As próximas duas semanas serão muito difíceis, mas acredito que o próximo governo, seja quem for o eleito, poderá reestabelecer a confiança, o País ainda tem algum fôlego financeiro.", disse. "É do interesse da própria comunidade financeira internacional que o Brasil consiga se recuperar, não interessa a ninguém um colapso financeiro e, por isso, acho que o País receberá uma oportunidade." Esse "interesse internacional na solução da crise brasileira", segundo Eggerstedt, poderá permitir inclusive que o País adote algumas medidas mais restritivas para defender o câmbio. "Não estou falando de controle de capitais, mas sim medidas pontuais como por exemplo o aumento do nível mínimo de reservas estrangeiras dos bancos ou elevação de impostos sobre transações". disse. O analista alemão observou, no entanto, que o próximo governo terá de agir rápido para tentar recuperar a confiança do investidor. "Terá de mostrar o comprometimento sólido com o controle fiscal, sem acenar com aumentos de gastos, entre outras coisas", disse. "A situação não permite hesitações ou equívocos."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.