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Para analistas, medidas agradam, mas vêm tarde

Especialistas avaliam que aperto do crédito já fez estragos na economia americana

Por Nalu Fernandes
Atualização:

Nova York - A ação concertada de vários bancos centrais para acalmar os mercados financeiros foi bem recebida pelos analistas, mas não desanuviou de vez o ambiente. O presidente da Pimco, uma das maiores administradoras de recursos do mundo, Bill Gross, avaliou que as medidas mostram que a compreensão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) da situação atual melhorou. Outros especialistas destacaram que, se os BCs falharem, as chances de os Estados Unidos entrarem em recessão vão aumentar substancialmente. "Esse remédio veio depois que a doença pegou a economia, ou seja, depois que aumentou a escassez de empréstimos por parte dos bancos", disse Bernard Baumohl, diretor-gerente do Economic Outlook Group. "O que essa ação coordenada dos bancos centrais fez foi reduzir as chances de uma recessão nos EUA de 65% para 50%", disse Baumohl. "Uma série de coisas precisa ser feita para manter a economia distante de problemas reais, tanto em termos de corte da taxa básica de juros quanto (e ainda mais) em relação a novas estratégias para facilitar os empréstimos bancários", acrescentou. Outros analistas em Wall Street demonstraram surpresa pela suposta demora dos BCs em agir. Depois dos anúncios de ontem, para alguns ficou clara a razão pela qual o Fed foi "contido" na redução da taxa de redesconto no encontro de política monetária realizado na terça-feira, que decepcionou os participantes dos mercados internacionais. A taxa de redesconto é aquela que serve de referência para os empréstimos do Fed ao sistema financeiro. Como os BCs anunciaram que já planejavam a ação conjunta há algum tempo, o economista-sênior do CIBC, Avery Shenfeld, avaliou que muito provavelmente foi por isso que o Fed não cortou a taxa de redesconto de forma mais "agressiva" e optou por uma redução de 0,25 ponto porcentual, levando-a para 4,75% ao ano. "Os membros do Fed optaram pela ação conjunta (com outros BCs), em oposição à redução maior da taxa de redesconto." A principal razão, ponderam os especialistas, é que os leilões temporários do Fed para fornecer fundos para instituições financeiras têm vantagens quando comparados ao acesso à taxa de redesconto, como, por exemplo, aceitar uma gama mais ampla de colaterais (garantias) e não vincular as instituições financeiras ao estigma que é normalmente associado aos que recorrem à janela de redesconto, observa a equipe do Barclays Capital para economia dos EUA. Entre os que se dizem surpresos, a consultoria Global Insight diz que os bancos centrais do G-10 "demoraram muito tempo" para estabelecer as linhas de trocas (swap) de moedas, em um movimento para tentar restaurar a liquidez nos mercados internacionais". A crítica tem por base a percepção de que a deterioração da liquidez nos mercados de crédito está em andamento desde agosto. O economista da consultoria, Brian Bethune, observou que "os bancos europeus têm experimentado problemas agudos de financiamento em dólares americanos, sendo que as dívidas de curto prazo na moeda precisam ser roladas". "Uma vez que o Banco Central Europeu (BCE) não pode fornecer liquidez em dólares para esse tipo de situação, sob o swap anunciado o Fed vai fornecer linhas ao BCE e ao Banco Nacional da Suíça", acrescentou. "A escala das operações anunciadas não é grande", afirmou David Hensley, do JP Morgan. No entanto, ele avaliou que o movimento representa um passo à frente para lidar com o estresse nos mercados. A mensagem mais importante para o analista é que, a partir de agora, há sinal emitido de que os BCs devem estar preparados para tomar ações "agressivas e coordenadas". Como a ação dos BCs é uma tentativa de estimular a liquidez nos mercados financeiros, o economista Paul Ferley, do RBC Capital Markets, estima que, "se as condições dos mercados realmente tiverem melhora, o Fed talvez tenha menor necessidade de cortar o juro à frente". Por enquanto, o analista mantém a projeção de juro básico dos EUA em 3,75% no primeiro trimestre de 2008. Segundo o gestor de renda variável da Infinity, George Sanders, o Fed resolveu o problema imediato, que era a falta de liquidez na virada do ano. "Ninguém quer virar o ano com balanço sujo, mostrar saúde fraca de recursos. Assim, o Fed atuou nesse gargalo e o mercado deve dar uma acalmada", avaliou.

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